terça-feira, setembro 19, 2006

Escadas "emparelhadas"!

Não se trata de nenhum fetiche (juro), mas a verdade é que se trata de outra (de mais uma) posta sobre escadas. Desta vez sobre as escadas "emparelhadas", entre (duas) paredes, como as que se podem encontrar na moradia de Miguel Beleza e José Martinez em Azeitão ou na moradia de Nuno Grande e Pedro Gadanho em Carreço, Viana do Castelo.
Vieram-me estas à ideia (à re-vista), mas estou capaz de apostar que há mais de onde estas vieram... como as baratas. (Mau, mas então o animal mascote da posta, não é o burro, com as "palas" nos olhos...)
Não sei quem, nem como, nem onde, começou a moda, mas (cá está - a esquerda), tamanha é a "obediência", e até parece que saiu uma nova "lei da escadas" para trepar ao estrelato do "sistema das estrelas" no céu dos arquitectos.
E o fenómeno não se fica pelas moradias unifamiliares. É "transversal"... que "frisson"! E não olha ao dente na hora de escolher as tipologias. Da vulcânica Casa das Mudas do Paulo David na "pérola do atlântico", ao vítreo "ice cube" (baby) do Kunsthaus Bregenz em Zurique (do vosso favorito Peter Zumthor), ninguém escapa! Que falta de respeito!
É claro que o "problema" (fossem todos...), tal e qual como na discussão sobre as "caixas", não está no modelo escolhido. Existem "escadas emparelhadas", pelas quais me pelo (em pelota... galega!), e de entre o "grupo" recordo (em "Ecstasy") a escada do Centro Galego de Arte Contemporâneo em Santiago de Compostela do Siza Viera... que maravilha com aquela "janela-clarabóia" no "plano oblíquo" (da cobertura) a ecoar a parede "inclinada" do átrio triangular com pé-direito duplo, e a resolver (com economia de meios e riqueza de sentidos) uma (e cito) "dupla função" (e necessidade) de iluminação... à melhor maneira dos ensinamentos do Robert Venturi no Complexity and Contradiction (o verdadeiro).
O "problema", como sempre, é o propósito (ou o despropósito) com que vamos "recorrendo" às memórias que nos habitam, o problema, é a inspiração e a transpiração, o problema é o talento. Raios!
Para terminar e para antecipar a "violência" das eventuais (e desejadas) criticas na caixa dos comentários, ressalvo que a posta não têm por objectivo a crítica, em concreto, às duas moradias "supra identificadas"... sobre isso, ou para isso, outras coisas haveria a escrever... da "inserção" "numa corrente suíca de forte expressão tectónica", conforme expressa no texto crítico de José Nuno Beirão, publicado na Revista Arquitectura e Vida (N.º 74), (a "expressão tectónica" de "corrente portuguesa" não lhes interessa...?) da primeira casa; à opção pelo betão descofrado no interior e o revestimento a "cappotto" (Kaput!) no exterior da segunda, etc, etc, etc.
A posta é mesmo sobre esta "vergonha" (este medo, "fear") das escadas, sobre esta "trend" para as reduzir a meros corredores de circulação vertical, e esconder atrás de paredes que não as deixam "respirar" e "participar" na vida dos espaços (de circulação ou estadia) com que poderiam "comunicar".
Falta-lhes, às escadas, e aos espaços das casas que "servem" (Kahn), maior (e cito) "promiscuidade" (MGD).
Tristes escadas "emparelhadas"?
Metam-se com elas!

segunda-feira, outubro 30, 2006

Anybody?

Gosto do pouco que conheço do Teatro Municipal da Guarda do Arq. Carlos Veloso. Gosto especialmente do ar compacto e robusto de coisa pública, feita (em betão) para durar, mas também, e num registo (ainda) mais subjectivo, da dignidade com que os volumes recortados ("contra" o espaço) parecem saber enfrentar os rigores do clima.
Também por lá se encontram umas escadas emparelhadas, e a já nossa velha conhecida expressão tectónica de ascendência suíça... mas não é nada de muito grave.
Da "Casa da Guarda" do mesmo autor, gosto (muito) menos. Falta habita-la, falta, certamente, dar (a) vida àquelas fotografias, mas não é só isso...
Conhecem aquela história do Frank Lloyd Wright não saber se havia de tirar o chapéu (da cabeça), quando estava no interior da "Glass House" do Philip Johnson? (Ou já estou a baralhar...?)
Na Casa da Guarda com todos aqueles envidraçados... é demasiado sol e/ou demasiado "frio". De óculos escuros e samarra... dentro de casa? Eu pelo menos não me imagino a subir aquela escada, com a neve a pesar sobre o tecto plano, em vidro... Quem sabe, talvez o Don Johnson (ah, mas isso era na quente Miami, V ice!) ou um qualquer (Europeu) Martini Man...
Anybody?

terça-feira, setembro 26, 2006

arq./a Nº 39

Uma posta em “atraso” sobre o Nº 39 da Revista “arq./a”. Não é aquisição frequente por estas bandas, é mesmo muito rara, mas desta vez, neste número, e com o destaque da entrevista aos ARX, fiz por me convencer do “investimento”. A entrevista, que não desilude, é complementada com a divulgação das obras da Biblioteca Municipal de Ílhavo em Aveiro e do Centro Regional de Sangue do Porto, expostas com o mínimo de informação suficiente à compreensão das mesmas.
Mais crítico seria da escolha dos “cromos” que acompanham em "ilustração", a paginação da reportagem… algumas das imagens não se percebe o que é que lá estão a fazer… mas não é grave, até porque a qualidade da produção do atelier, a muito mais do que isto, já provou resistir.
A publicação da Biblioteca Municipal de Tavira do J.L. Carrilho da Graça, segue o mesmo critério, mas os “sensíveis” (leia-se “maricas”) enquadramentos “apertados” (cortados à faca) das fotografias de Maria Timóteo, tornam (intencionalmente) difícil a compreensão da obra, principalmente na relação com o contexto urbano mais imediato... mas é assim que se constroem carreiras de sucesso...
(É impressão minha ou as obras do JLCG, vão perdendo muito do seu interesse à medida da passagem do tempo? Aquelas dos “oitenta”, anteriores ao “marco” da Escola de Benfica… vocês sabem…)
Igualmente de autores portugueses, a casa em Carreço, Viana do Castelo de Nuno Grande+Pedro Gadanho, anteriormente mencionada em “odesproposito” na posta sobre as escadas emparelhadas. A casa organiza-se de modo algo esquemático em “tiras” de espaços “servidores” (circulações horizontais e verticais) e espaços “servidos” (salas, quartos, terraço… mas também cozinha e garagem?), aproveitando o desnível de cotas entre o acesso e “os fundos” do lote, para um “espectacular” jardim suspenso em consola (tipo “Babilónia” XXI?) suportado pelo sistema construtivo de “paredes-vigas” em betão. A casa (o betão) é revestida (apenas) no exterior, a “cappotto”, numa decisão (os autores falam em “inversão”) que considero “enfraquecer” as potencialidades “conceptuais” do objecto e a pretendida “minimização” dos “impactos paisagísticos”. Mas com o “acabamento” em betão branco aparente, já não havia “jovens” paredes cor-de-laranja para ninguém, e lá se ia o interesse dos fotógrafos e das revistas…
O "deambulatório" (pelas casas de banho...) do piso superior, no acesso ao corredor dos quartos é de uma grande "fragilidade", funcional e... tipológica. A decisão de iluminar (e ventilar) uma das ditas casa de banho (e de manter a outra "às escuras"...) com um "óculo" em posição assimétrica (ai o adiantado da hora...) revela apenas de uma enorme "facilidade" de desenho, daquilo a que um colega da (e na) FAUTL, um dia chamou de "patologias do desenho"!
Enfim, são algumas observações avulsas...
Entre os estrangeiros… o Museu Mercedes-Benz em Estugarda do UN Studio, uma das poucas obras do actual Star-System proporcionalmente merecedora da atenção que lhe é devotada (mas é só uma opinião entre outras…); o Centro Recreativo do Campus Universitário de Cincinnati em Ohio de Thom Mayne (Morphosis), um “quase antiquado” projecto de enorme complexidade e difícil leitura face à insuficiência do material disponibilizado, que me fez recuar (nas memórias) até um “certo” James Stirling…; e a “Springtecture B” em Shiga, Japão, de Shuhei Endo, cuja apreciação, surge condicionada pela constatação da “repetição da fórmula de sucesso”, conforme anteriormente ensaiada na premiada “Springtime in the Park” dos lavatórios públicos de Hyogo.
Nada que não justifique os 9 Euros, mas podia ser melhor…

terça-feira, janeiro 02, 2007

A Arquitectura no Pinhal














Por esta altura e a postas tantas, espero ver reconhecido "o meu livre pensamento" e a "distância crítica" que me separa das novas (velhas) arquitecturas cúbicas das "virgens brancas" em "levitação", mas estas, que aqui em cima (numa das fotografia de hoje à tarde) mal se a-mostram, acho curiosas.
A arquitectura é do Promontório, mas o meu juízo sobre as criaturas, é anterior à "descoberta" dos seus autores, e não foi "afectado" pelo muito respeito e (quase) igual admiração, que o seu trabalho me merece.
Por uma vez os volumes em suspensão e aquelas "falhas" no desacerto entre os diferentes pisos, jogam a favor da arquitectura, ao "reproduzirem" a experiência (da hora) "obliqua" das sombras no pinhal... (E é mesmo bom que "reproduzam", porque, normalmente, e no final destas "operações", os "originais", os pinheiros... viste-los!).
O pior dos projectos são as plantas... mazinhas, mazinhas... todas "ortogonalizadas" e cheias de estilo... com o piso térreo "social" em "open-space" (cozinha incluída) e com umas circulações tortuosas, às voltas de uns quartos sem história, no piso superior. O menos mau, acho eu, ainda é o T4... mais "proporcionado"... e com uma "suite" que faz jus ao nome (mas sem nenhum buraco - promiscuidade - para espreitar o espaço da piramidal (?) clarabóia sobre a mesa de refeições...).
A entrada (a semelhança das duas moradias algarvias de Ricardo Bak Gordon) é de "chofre", ora agora estás lá fora, ora agora (já) estás cá dentro, e faz-se por uma buraco igual (só que mais pequeno...) que os buracos envidraçados (reparem como evitei, com enorme subtileza, falar em portas e janelas...). As escadas, são emparelhadas.
As implantações dos projectos tipos (por tipologia) são preguiçosas. Os volumes balançados sobre as piscinas nas moradias de tipo T3, por exemplo, orientam-se indistintamente, a norte ou a sul, indiferentes à "posição" do sol e às necessidades (ou não) de sombras.
"A arquitectura (vejam lá se percebem esta...) é um valor". Enfim, eu até já tinha escrito que gosto...

quinta-feira, março 09, 2006

Prémio Cerâmica Vale de Gândara, ou ... A Veia Crítica, o Saguão e o "Seringão"


















Não sendo propriamente uma apreciador da ideia de prémios de arquitectura por dá cá aquela palha (como sabem aqueles que fazem o sacrifício de me acompanhar com maior regularidade), tenho dos prémios patrocinados pela industria da construção opinião mais favorável, pelas possibilidades "didácticas" que entrevejo na divulgação da exemplar utilização construtiva de um determinado material.
Na revista "Materiais de Construção" da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção APCMC, N.º 122 (Nov/Dez 2005), que apareceu em cima da minha secretária, publicam-se os prémios de arquitectura em Tijolo de Face à Vista Cerâmica Vale de Gândara, relativos ao ano anterior (2004).
Na categoria "Absoluta", o vencedor do prémio foi o Arq.º João Álvaro Rocha, com a obra do PER para o conjunto habitacional na Rua da Seara em Matosinhos.
A obra publicada (sem desenhos) parece remeter para o Proj. de habitação colectiva e equipamentos em Gondifelos, Famalicão, por sua vez "adaptado" do Proj. "apresentado no concurso internacional de arquitectura PLEA-88", que conheço da revista Architécti, N.º 11/12 (Out/Nov/Dez, 1991), que previa a construção de volumes em banda (à semelhança dos modernistas Siedlung) com dois fogos por piso, em tipologia esquerdo/direito (mas "disfarçada" pelo desenho das escadas) em que os alçados opostos, um "fechado", virado ao norte e um "aberto" virado ao sul, estavam desenhados (precisamente) em função da orientação solar e das características (locais?) do clima.
A obra actual apresenta as (mesmas?, ou quase?) bandas, mas "emparelhadas" duas-a-duas, com os (mesmo?, ou quase?) alçados, mas, como resulta da nova composição, agora com orientações também elas opostas, e que pela análise da luz e das sombras das fotografias só poderão ser alçados nascente/poente para bandas orientadas a norte/sul, em clara perversão do "projecto-tipo", de cujas virtudes (e limitações) os arquitectos nem sempre se apercebem... ou querem aperceber.
(Reparo agora, que as fenetre-en-longueur + brise soleil, do ex-alçado sul foram substituídas por janelas "tradicionais", por buracos mais ou menos quadrangulares, recortados das superfícies, em "raccord" com as janelas quadradas "super-piquenas" do (antigo) alçado norte, mas isso não me parece relevante para a análise e crítica aos limites do "projecto-tipo", que fiz).
Ao contrário do que acontecia na "versão Siedlung" em que os espaços "servidos" deitavam vistas sobre o alçado norte (as traseiras, embora "disfarçadas") da banda seguinte, nesta versão, o "emparelhamento" têm como consequência o face-a-face desses espaços privados, em espaços públicos (parcos e estreitos?) que não nos são mostrados.
O que é mostrado é o reverso do "emparelhamento", um espaço descoberto (alto e estreito, sem ponto de interrogação) sinistro corredor de acesso ao sistema de circulações verticais pormenorizado com todo o tipo de soluções necessárias ao desenvolvimento harmoniosos dos idosos e das crianças e das futuras actividades dos grupos de "jovens", a saber: o "graffiti", as sevícias sexuais e a "cura pela seringa"!
Custava muito ter alinhado o pavimento dessas "ruas" interiores (artisticamente (?) fechadas em "ponte", nos topos), com as cotas de soleira das portas de acesso aos "prédios" (não, prédios não, carago!), desenhando (construindo) degraus (ou de preferência rampas) no princípio e fim de cada uma?
Peço desculpa pela linguagem vulgar (estava a fazer um esforço...) mas foda-se, isto é demais! Não há paciência para estas arquitecturas! Ah! Sim! Mas com a tua proposta de desenho alternativo (e "universal") já não se podiam exibir as "sapatas" em betão descofrado, excelentes para tropeçar e bater com o maço, ou para partir uma garrafa de Sagres (Média, sff), antes da rixa ou do assalto! Não há dúvida que estes moços (os outros que não os arquitectos...) pensam em tudo!
E logo eu, que nem sou adepto da tese da culpa "sociológica" da arquitectura nos comportamentos desviantes...
Pausa para respirar.
Na categoria Jovem Arquitecto ("isto é com vocês, não estou a falar com a NASA" GNR) a atribuição do prémio foi ex-aequo, mas eu só me apetece falar da moradia unifamiliar na Lavra, Matosinhos, do Arq.º Luís Filipe Amado Antas de Barros. Gosto do "ar" sólido, compacto, e cá está, com o rigor construtivo que o tijolo maciço oferece; das fotografias... e das "recordações" das moradias em tijolo da década de 30, do Mies, que elas me permitem.