quinta-feira, março 09, 2006

Prémio Cerâmica Vale de Gândara, ou ... A Veia Crítica, o Saguão e o "Seringão"


















Não sendo propriamente uma apreciador da ideia de prémios de arquitectura por dá cá aquela palha (como sabem aqueles que fazem o sacrifício de me acompanhar com maior regularidade), tenho dos prémios patrocinados pela industria da construção opinião mais favorável, pelas possibilidades "didácticas" que entrevejo na divulgação da exemplar utilização construtiva de um determinado material.
Na revista "Materiais de Construção" da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção APCMC, N.º 122 (Nov/Dez 2005), que apareceu em cima da minha secretária, publicam-se os prémios de arquitectura em Tijolo de Face à Vista Cerâmica Vale de Gândara, relativos ao ano anterior (2004).
Na categoria "Absoluta", o vencedor do prémio foi o Arq.º João Álvaro Rocha, com a obra do PER para o conjunto habitacional na Rua da Seara em Matosinhos.
A obra publicada (sem desenhos) parece remeter para o Proj. de habitação colectiva e equipamentos em Gondifelos, Famalicão, por sua vez "adaptado" do Proj. "apresentado no concurso internacional de arquitectura PLEA-88", que conheço da revista Architécti, N.º 11/12 (Out/Nov/Dez, 1991), que previa a construção de volumes em banda (à semelhança dos modernistas Siedlung) com dois fogos por piso, em tipologia esquerdo/direito (mas "disfarçada" pelo desenho das escadas) em que os alçados opostos, um "fechado", virado ao norte e um "aberto" virado ao sul, estavam desenhados (precisamente) em função da orientação solar e das características (locais?) do clima.
A obra actual apresenta as (mesmas?, ou quase?) bandas, mas "emparelhadas" duas-a-duas, com os (mesmo?, ou quase?) alçados, mas, como resulta da nova composição, agora com orientações também elas opostas, e que pela análise da luz e das sombras das fotografias só poderão ser alçados nascente/poente para bandas orientadas a norte/sul, em clara perversão do "projecto-tipo", de cujas virtudes (e limitações) os arquitectos nem sempre se apercebem... ou querem aperceber.
(Reparo agora, que as fenetre-en-longueur + brise soleil, do ex-alçado sul foram substituídas por janelas "tradicionais", por buracos mais ou menos quadrangulares, recortados das superfícies, em "raccord" com as janelas quadradas "super-piquenas" do (antigo) alçado norte, mas isso não me parece relevante para a análise e crítica aos limites do "projecto-tipo", que fiz).
Ao contrário do que acontecia na "versão Siedlung" em que os espaços "servidos" deitavam vistas sobre o alçado norte (as traseiras, embora "disfarçadas") da banda seguinte, nesta versão, o "emparelhamento" têm como consequência o face-a-face desses espaços privados, em espaços públicos (parcos e estreitos?) que não nos são mostrados.
O que é mostrado é o reverso do "emparelhamento", um espaço descoberto (alto e estreito, sem ponto de interrogação) sinistro corredor de acesso ao sistema de circulações verticais pormenorizado com todo o tipo de soluções necessárias ao desenvolvimento harmoniosos dos idosos e das crianças e das futuras actividades dos grupos de "jovens", a saber: o "graffiti", as sevícias sexuais e a "cura pela seringa"!
Custava muito ter alinhado o pavimento dessas "ruas" interiores (artisticamente (?) fechadas em "ponte", nos topos), com as cotas de soleira das portas de acesso aos "prédios" (não, prédios não, carago!), desenhando (construindo) degraus (ou de preferência rampas) no princípio e fim de cada uma?
Peço desculpa pela linguagem vulgar (estava a fazer um esforço...) mas foda-se, isto é demais! Não há paciência para estas arquitecturas! Ah! Sim! Mas com a tua proposta de desenho alternativo (e "universal") já não se podiam exibir as "sapatas" em betão descofrado, excelentes para tropeçar e bater com o maço, ou para partir uma garrafa de Sagres (Média, sff), antes da rixa ou do assalto! Não há dúvida que estes moços (os outros que não os arquitectos...) pensam em tudo!
E logo eu, que nem sou adepto da tese da culpa "sociológica" da arquitectura nos comportamentos desviantes...
Pausa para respirar.
Na categoria Jovem Arquitecto ("isto é com vocês, não estou a falar com a NASA" GNR) a atribuição do prémio foi ex-aequo, mas eu só me apetece falar da moradia unifamiliar na Lavra, Matosinhos, do Arq.º Luís Filipe Amado Antas de Barros. Gosto do "ar" sólido, compacto, e cá está, com o rigor construtivo que o tijolo maciço oferece; das fotografias... e das "recordações" das moradias em tijolo da década de 30, do Mies, que elas me permitem.

1 Comments:

Blogger AM said...

24-07-07

http://cacifo200.blogspot.com/2007/07/recusa-afirmao-preferindo-sempre-o.html

http://cacifo200.blogspot.com/2007/07/complemento-ao-post-anterior.html

10:39 da tarde  

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