domingo, maio 10, 2009

Primavera em Portugal

já por cá (por aí...) estavam a faltar as (absurdas) afirmações dos (bons) costumes sobre os "erros urbanísticos" do Bairro da Bela Vista que, numas "bocas" que ouvi e que recordo deste fim-de-semana, seriam responsáveis pela "dificuldades" em levar "avante" (cof, cof) a necessária "intervenção social" (e agora também "policial"...) nos "quarteirões" ("problema"...)
ora estou em crer que o Bairro da Bela Vista não só não tem nada de especialmente (e/ou "urbanisticamente") "errado", como - e quando comparado com o resto da cidade (de Setúbal) ou com qualquer outro pedaço do nosso (des) urbanizado país... - é bem capaz de ser do melhor (zinho) que soubemos fazer nestes últimos 35 anos...
o "problema" do Bairro da Bela Vista é a pobreza (e - como em todos os outros lados... - uma dose marada de maldade congénita...)
vão por mim... habitado por uma classe média (alta) à lá Telheiras ou (alta) do Restelo e (mais assalto ao atm, menos assalto ao atm) e aquilo seria considerado um ("enorme"...) "sucesso urbanístico"...
ao televisionar o provinciano espectáculo com que os "directos" dos merdias quiseram transformar a Bela Vista num simulacro dos bairros West Coast (de LA), sobreleva a (incontornável) qualidade daquela arquitectura "dura" e "seca" (dir-se-ia... "pós-brutalista"...) sem rodriguinhos nem paternalismos pós-modernos, a qualidade daqueles arruamentos e entroncamentos pontualmente arborizados, a qualidade da luz (quente e "líquida") de mais um final de dia de primavera em Portugal...
se não quiserem "a-creditar" (n) a minha opinião, então, e ao menos, que atentem e meditem no que o Siza declarou ao Ípsilon do Público da passada sexta:
O Bloco de Marselha do Corbusier, por exemplo: durante anos esteve degradado e foi considerado um fracasso, uma arquitectura socialmente inaceitável. Neste momento está tudo a funcionar porque houve uma geração - de professores, de arquitectos, de intelectuais - que quis ir para lá viver. Enquanto era para os pobrezinhos aquilo era um desastre. Agora é um sucesso.
depois disto venham-me cá (à caixa de comentários do odp) dizer que é a ("arquitectura" da) esquerda que está errada...

última nota: se e quando (ai o processo eleitoral em curso...) vier a cheta para as "operações" de... (re) qualificação, vejam lá se não estragam tudo (nem os restos...) com "alindamentos" e "canteiros"...

7 Comments:

Blogger Lourenço Cordeiro said...

Men did not love Rome because she was great. She was great because they had loved her.

(Chesterton)

9:55 da manhã  
Blogger AM said...

mt obg L.
uma reacção, boa, da direita :)
não sei se percebi o C. mas lá que a frase é catita
é um pouco como aquela da beleza estar no olho de quem vê, e olhos que não veêm... :)
ou então, ainda melhor, como a outra do Camões sobre a transformação do amador, na coisa amada...
... de Roma à Bela Vista (via Las Vegas...)
Roma rules! :)

1:32 da tarde  
Blogger Lourenço Cordeiro said...

O caso do «falhanço» da arquitectura moderna passa muito pela falta de amor que lhe foi dado. O que Chesterton quer dizer é que os sítios só são grandiosos se os homens os amarem, e não o contrário. O Bloco de Marselha entregue a quem não o ama é um «falhanço»; um conjunto de casas medievais de má construção entregue a quem o ama (Alfama, por exemplo) é um «sítio» vencedor. É esta lógica que faz de Moscavide um sítio mais convidativo que o Parque das Nações.

2:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

OS BANDOS DOMINAM NOS BAIRROS SOCIAIS

Os partidos de esquerda desculpam sistematicamente a criminalidade com o a pobreza e o desemprego. Parece terem receio de uma atitude mais enérgica na luta contra o crime. Será que ficaram traumatizados desde os tempos do fascismo? Esta postura está a desorientar o seu próprio eleitorado natural: os mais pobres que são também os mais desprotegidos face à criminalidade. Assim, os partidos de esquerda têm muita responsabilidade relativamente ao crescimento da extrema direita que tem um discurso bem mais sensato sobre o combate crime. Barack Obama prometeu ser implacável no combate ao crime e defender ao mesmo tempo os mais desfavorecidos. Não me parece que isso seja incompatível.

Todos os dias vemos fechar Empresas jogando muita gente no desemprego e na pobreza. Frequentemente, ficam muitos meses de salários por pagar, levando essas pessoas a uma situação de desespero. Se fosse esse o motivo dos desacatos que se têm visto nos bairros sociais, então eles aconteceriam preferencialmente nas manifestações junto aos antigos locais de trabalho, onde se aglomeram muitas pessoas na mesma situação.
Não! o que se viu no Bairro da Bela Vista foi a homenagem a um criminoso abatido em flagrante pela polícia, numa atitude de desafio à própria polícia como que para testar a sua capacidade de reacção e para uma demonstração de força no bairro.

Há 50 anos a pobreza em Portugal não era menor que a de hoje e a criminalidade violenta era praticamente inexistente. Se mais pobreza implicasse mais criminalidade, então não teria sido assim. As estatísticas nem reflectem a nossa realidade porque muitas vítimas já nem se queixam porque sabem que os criminosos são rapidamente postos em liberdade, mesmo quando são capturados e depois ficam sujeitos a represálias. Mela mesma razão, vítimas e testemunhas escondem a face quando são entrevistadas pela televisão.

Já há algum tempo um Mayor de Nova Iorque decidiu que não se deveria menosprezar a pequena criminalidade nem os pequenos delitos, porque a sensação de impunidade se instala nos jovens delinquentes, estes vão facilmente progredindo para infracções cada vez mais graves até que a situação se torna incontrolável. Implementou então a célebre "Tolerância Zero" que, como se sabe, deu óptimos resultados, reduzindo num só ano a criminalidade em Nova Iorque em cerca de metade.

A actual política portuguesa de manter na rua os criminosos, mesmo depois de várias reincidências, faz (como dizia o Mayor ) crescer a sensação de impunidade: o criminoso continua com as suas actividades criminais, vai subindo o nível dos seus delitos e serve de exemplo para que outros delinquentes mais jovens sigam o mesmo caminho.

Mas existem muitas pessoas trabalhadoras e humildes nos bairros sociais que não levantam problemas e que só desejam que os deixem viver em paz, o que não acontece, porque estão reféns dos bandos de criminosos que dominam nesses bairros. Não se pode contar com essas pessoas para testemunharem qualquer acto criminoso a que assistam porque têm medo, medo de represálias porque não se sentem convenientemente protegidas pela polícia que também não pode estar sempre presente. Lembra as favelas brasileiras...só que no Brasil polícia e militares juntam esforços para combater o domínio dos bandos nas favelas e tem havido baixas parte a parte mas a polícia começa a chegar onde antes não se aventurava. Por cá, enquanto o crime cresce e toma posições de domínio, a polícia, apesar de vontade, nada pode fazer porque lhe falta a autoridade. Entretanto, Governo, Partidos, e outras organizações não compreendem o que se está a passar e fazem conjecturas absurdas sobre o motivo dos desacatos que é por demais evidente. Será que temos que cair no fundo?

Zé da Burra o Alentejano

3:39 da tarde  
Blogger AM said...

exacto, Lourenço

eu gosto - e acho que temos muito a "aprender"... - com Moscavide :)

caro "zé da burra o alentejano"

do seu longo comentário, que (ainda assim...) agradeço, retenho a última passagem: "conjecturas absurdas sobre o motivo dos desacatos (são) por demais evidente(s)"
de qualquer maneira não são primordialmente os "motivos dos desacatos" o que está em causa na minha posta, mas apenas a identificação que considero totalmente indevida e injustificável entre os ditos "erros urbanisticos" da arquitectura e a (explosiva)situação social
quando as coisas chegam ao ponto de se atacarem os bombeiros é porque as coisas estão muito (muito) erradas
se (re) ler a minha posta com atenção vai poder ver que recuso qualquer apologia ou defesa da violência ou da marginalidade
agora, vai desculpar-me, mas todo o conceito de "tolerância zero" - começam no graffiti e acabam na banca e na alta finança... - só mesmo para rir...

4:53 da tarde  
Blogger alma said...

Gosto do bairro da bela vista o bloco 2 A é o meu preferido:)
Não sei se irei a tempo de ainda comprar lá um apartamento com vista para o mar ... seguir o conselho do Lourenço e espalhar paz e amor pelo bairro!

Toda este espalha facto dos media é de fazer chorar as pedras da calçada !

1:18 da manhã  
Blogger AM said...

2 A
até o nome é bonito :)

1:33 da manhã  

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