segunda-feira, novembro 12, 2007

Nova Arquitectura Angolana (odp feito pelo GAD)

Pelo conhecimento "in loco" e em primeira mão do "problema", "tomei a liberdade" de reproduzir o "corpo central" deste comentário do GAD, que ("como é natural e fica bem...") muito agradeço.

Esta é apenas uma das consequências perversas do exponencial desenvolvimento económico da República Popular de Angola principiado com o fim da guerra, há bem poucos anos.
A relativa estabilidade social e económica então instaurada, escancarou, de novo as portas do país para a "invasão" desenfreada das grandes multinacionais, ávidas da fertilidade e da riqueza natural deste país estratégicamente posicionado em África.
A total ausência de uma entidade séria que regulasse a qualidade dos mega-projectos para a construção das sedes e dos "micro-climas" (alojamentos de luxo para os expatriados e família, escolas, clínicas, etc.) aliada a um sistema onde a corrupção está institucionalizada, abriram espaço para o crescimento acelerado destas aberrações.
Por outro lado, o modo sobranceiro e neo-colonialista como a grande maioria dos arquitectos (de muitas nacionalidades, incluindo portugueses "de nome feito" (só para falar da nossa área) encara o mercado angolano reflecte-se num total e despudorado desrespeito pelas questões essenciais da arquitectura, nomeadamente as consequências fisicas e ambientais da intervenção em grande escala numa cidade consolidade e caracterizada por uma coerência formal e espacial extraordinária.
Conhecidos arquitectos da nossa praça (os chineses, sul-africanos, americanos, brasileiros, israelitas, etc. não me dizem nada) estão a projectar para Luanda e para muitas outras cidades em franco desenvolvimento sem nunca terem posto um pé naquele território de características ímpares.
Durante o antigo regime, grandes arquitectos portugueses encontraram nas colónias espaço e liberdade para a pratica da arquitectura moderna inspirada sobretudo nos modelos corbusianos.
As condições específicas do clima motivaram esses arquitectos para a pesquisa e invenção de inteligentes e variadíssimos sistemas de ensombramento e ventilação natural formalizados numa gramática de grelhas, palas, vazios, ritmos, texturas, onde adicionaram a cor e a fantasia que se respira em África.
Hoje, se alguma coisa se respira, é o "encanto" dos dólares americanos.
Por fim, a ideia bacôca e abstrunça (por parte dos promotores e dos governantes) de que a qualidade e a modernidade passam pela construção em altura e pela importação de modelos "internacionais", copiados do Dubai, (por exº) onde domina a fachada cortina, o alumínio e uma enganadora sofisticação, estão a destruir, para sempre,cidades notáveis sob todos os pontos de vista.
Ambientalmente, adivinham-se a curto prazo, consequências dramáticas.
As torres, como a que mostras, que agora crescem na frente da cidade, junto à famosa Marginal, estão progressivamente a cortar todo o importante e complexo sistema de ventilação natural e de escoamento de águas pluviais da cidade.
Para acabar (não fui assim tão sintético...) a história mais recente deste país será escrita e, pela parte que me toca, como angolano que também sou, terei o maior gosto em chamar os bois pelos nomes.

Mais uma vez muito obrigado pelo teu comentário. Fico à espera da "posta prometida" :)
Um abraço.

2 Comments:

Blogger newzeeland said...

o "encanto" dos dólares americanos.
é o encanto pela globalização em parte pretendida ,mas raramente assumida.
Em tempos vi um documentário acerca de um projecto em Cabo Verde (cidade Velha)em que os locais pretendiam materiais standadizados como o tijolo e a telha de marselha apenas por considerarem os materiais da região como pobres e demasiado comuns para se destacarem entre si.
Creio que apenas preservando alguma coisa do passado se pode construir uma identidade , ainda que nos países ditos luso-africanos essa cultura e identidade tenha sido de certo modo introduzida pelos portugueses e por vezes possa ser rejeitada pelo seu valor simbólico .
Angola ,como todos os países em desenvolvimento só se tornarão conscientes quando se tiverem desenvolvido.

4:50 da tarde  
Blogger AM said...

obrigado new zee land (Nuno Miguel F. Silva - fui espreitar...)
felicidades

7:19 da tarde  

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