Carrilhadas
A entrevista, ou a conversa, ou lá o que é, do José Adrião + Ricardo Carvalho com o Carrilho da Graça no JA 231 é uma anedota pegada.
Quem os leia, sem conhecer a obra do "autor", vai ficar a pensar em altas cavalgadas tecnológicas...
Gostei particularmente do "vazio" (da nulidade) da passagem em que o autor diz que as suas "obras partem directamente do legado do século XIX em direcção ao Movimento Moderno" à semelhança, mas modestamente salvaguardando a distância e o "desfasamento temporal" que as separa, das obras dos mestres Le Corbusier ou Mies; mas confesso que a minha preferência vai toda para a delirante passagem à volta da passagem pelos pós-modernismos... passo a citar:
Há um momento em que o Movimento Moderno ficou KO. isto tem a ver com uma série de falhanços. E houve um divórcio completo entre arquitectos e sociedade. (E eu a pensar que o "divórcio" entre a arquitectura e a "sociedade" tinha começado com as "rupturas" da própria arquitectura "moderna"...) A partir daí, pouco a pouco - como se tivéssemos sofrido um desastre, ou como se a própria Arquitectura tivesse sofrido um acidente - vamos recuperando e começámos a tentar relacionar-mos (no original) gradualmente com a sociedade.
Esse desastre (bela "bucha"...) foi o Pós-Modernismo?
Sim! Mas o Pós-Modernismo, na minha "cruel" interpretação, começa antes. Podemos encontrar em autores estimáveis essa posição lateral, artística, das experiências importantes que são também desvio. Estou a pensar na Villa Mairea de Alvar Aalto. Visitei-a, é um edifício fascinante. Há uma alusão à floresta da qual saímos, com a guarda da escada, altamente poética, a forma da lareira, etc. No exterior, a guarda do terraço é de madeira, feita com um tronco, muito rural. Tudo aquilo é romântico e heterodoxo. Mas admito que não é a melhor maneira de pensar na arquitectura como possibilidade de encontro com a sociedade e resolução de problemas, de acerto com as questões territoriais, culturais e tecnológicas.
Caríssimos... (vou tentar não ser muito "cruel"...) Qualquer que seja o ponto de vista que se adopte não é de todo em todo correcto, ou mesmo "certo", "classificar" o arquitecto Alvar Aalto ou, melhor, a sua arquitectura, como sendo "pós-moderna".
Alvar Aalto é um dos (3, 4, 5...) mestres da primeira geração da arquitectura dita moderna. É tão incorrecto associar o "romantismo" (nórdico) e o(s) estilo(s) "heterodoxos" de Alvar Aalto, com o (estilo) pós-modernista (ou, ainda que o fosse, com a pós-modernidade) como confundir o regresso à ordem e os objectos de reacção poética de Le Corbusier ou os "I" decorativos das fachadas do Mies, com o mesmo estilo pós-modernista...
Essas "correntes" não são "desvios" à ortodoxia modernista, mas apenas diferentes "ramos" (galhos) de uma floresta (belo, heim!?) de diferentes experiências ensaiadas por diferentes "autores" que partilhavam uma fé no "tronco comum" da modernidade (para esses sim...) cultural e tecnológica.
Os "desvios" do Aalto não têm nada a ver com posições (nojentices) laterais ou "artísticas". "Artistas" por muito que o negassem (e aqui abro um parêntesis para a "radicalidade" da "nova objectividade" e pouco mais...), foram eles quase todos...
O Alvar Aalto não é um autor "estimável". O Alvar Aalto é um génio. Um génio, absoluto, admirável e "adorável". "Estimáveis" (estimável é a mãe...), estimáveis são uns tantos que andam por aí... a mandar umas bocas parvas, e que aturamos mais por curiosidade e respeito pela obra, que por outra coisa qualquer...
Isto dito, convêm ainda reforçar, que as lições de mestre Aalto permanecem absolutamente actuais e relevantes para a tentativa de resolução dos "problemas" "culturais e tecnológicos" das sociedades do presente e do futuro... que permanecem, e que irão, por certo, permanecer, muito para além do prazo de validade de muito arquitecto iogurte com aroma a "moderno"...
Para os que (ainda) ficaram com dúvidas quanto ao absurdo da "classificação", odp recomenda a leitura suplementar de "'Pós-modernismo': Um Panorama Histórico-Conceptual" de Michael Köhler publicado no N.º 5 da Revista do Pensamento Contemporâneo "Critica", dedicado às "Estéticas da Pós-Modernidade".
"Contra a estupidez até os deuses são impotentes!" (?) Yeah, right!...
Quem os leia, sem conhecer a obra do "autor", vai ficar a pensar em altas cavalgadas tecnológicas...
Gostei particularmente do "vazio" (da nulidade) da passagem em que o autor diz que as suas "obras partem directamente do legado do século XIX em direcção ao Movimento Moderno" à semelhança, mas modestamente salvaguardando a distância e o "desfasamento temporal" que as separa, das obras dos mestres Le Corbusier ou Mies; mas confesso que a minha preferência vai toda para a delirante passagem à volta da passagem pelos pós-modernismos... passo a citar:
Há um momento em que o Movimento Moderno ficou KO. isto tem a ver com uma série de falhanços. E houve um divórcio completo entre arquitectos e sociedade. (E eu a pensar que o "divórcio" entre a arquitectura e a "sociedade" tinha começado com as "rupturas" da própria arquitectura "moderna"...) A partir daí, pouco a pouco - como se tivéssemos sofrido um desastre, ou como se a própria Arquitectura tivesse sofrido um acidente - vamos recuperando e começámos a tentar relacionar-mos (no original) gradualmente com a sociedade.
Esse desastre (bela "bucha"...) foi o Pós-Modernismo?
Sim! Mas o Pós-Modernismo, na minha "cruel" interpretação, começa antes. Podemos encontrar em autores estimáveis essa posição lateral, artística, das experiências importantes que são também desvio. Estou a pensar na Villa Mairea de Alvar Aalto. Visitei-a, é um edifício fascinante. Há uma alusão à floresta da qual saímos, com a guarda da escada, altamente poética, a forma da lareira, etc. No exterior, a guarda do terraço é de madeira, feita com um tronco, muito rural. Tudo aquilo é romântico e heterodoxo. Mas admito que não é a melhor maneira de pensar na arquitectura como possibilidade de encontro com a sociedade e resolução de problemas, de acerto com as questões territoriais, culturais e tecnológicas.
Caríssimos... (vou tentar não ser muito "cruel"...) Qualquer que seja o ponto de vista que se adopte não é de todo em todo correcto, ou mesmo "certo", "classificar" o arquitecto Alvar Aalto ou, melhor, a sua arquitectura, como sendo "pós-moderna".
Alvar Aalto é um dos (3, 4, 5...) mestres da primeira geração da arquitectura dita moderna. É tão incorrecto associar o "romantismo" (nórdico) e o(s) estilo(s) "heterodoxos" de Alvar Aalto, com o (estilo) pós-modernista (ou, ainda que o fosse, com a pós-modernidade) como confundir o regresso à ordem e os objectos de reacção poética de Le Corbusier ou os "I" decorativos das fachadas do Mies, com o mesmo estilo pós-modernista...
Essas "correntes" não são "desvios" à ortodoxia modernista, mas apenas diferentes "ramos" (galhos) de uma floresta (belo, heim!?) de diferentes experiências ensaiadas por diferentes "autores" que partilhavam uma fé no "tronco comum" da modernidade (para esses sim...) cultural e tecnológica.
Os "desvios" do Aalto não têm nada a ver com posições (nojentices) laterais ou "artísticas". "Artistas" por muito que o negassem (e aqui abro um parêntesis para a "radicalidade" da "nova objectividade" e pouco mais...), foram eles quase todos...
O Alvar Aalto não é um autor "estimável". O Alvar Aalto é um génio. Um génio, absoluto, admirável e "adorável". "Estimáveis" (estimável é a mãe...), estimáveis são uns tantos que andam por aí... a mandar umas bocas parvas, e que aturamos mais por curiosidade e respeito pela obra, que por outra coisa qualquer...
Isto dito, convêm ainda reforçar, que as lições de mestre Aalto permanecem absolutamente actuais e relevantes para a tentativa de resolução dos "problemas" "culturais e tecnológicos" das sociedades do presente e do futuro... que permanecem, e que irão, por certo, permanecer, muito para além do prazo de validade de muito arquitecto iogurte com aroma a "moderno"...
Para os que (ainda) ficaram com dúvidas quanto ao absurdo da "classificação", odp recomenda a leitura suplementar de "'Pós-modernismo': Um Panorama Histórico-Conceptual" de Michael Köhler publicado no N.º 5 da Revista do Pensamento Contemporâneo "Critica", dedicado às "Estéticas da Pós-Modernidade".
"Contra a estupidez até os deuses são impotentes!" (?) Yeah, right!...
13 Comments:
sem palavras :)
arquitectos iogurte com sabor a moderno :)você ODP é um génio :):):)
ó anónimos tem que perceber que há duas individualidades neste blogue um é um velhaco adoravel que é o ODP
e o outro é um arquitecto que é um cavalheiro que dá pelo nome de AM :)
Dr Jekyll and Mr Hyde... :) é oficial... :)
mt obg... :) maria :)
Este post saiu-te bem!
Um comentário:
"o autor diz que as suas "obras partem directamente do legado do século XIX em direcção ao Movimento Moderno"
Esta é para rir...o último Carrilho que visitei foi o museu da Fundação Oriente, uma espécie de Tate Modern em Alcantara mas com uma particularidade: o envidraçado de R/CH da Tate está em Londres, o envidraçado de R/CH do Carrilho está em Lisboa e voltado a Poente...não ha ar condicionado que resista, estufa-se la dentro! Enfim, 'directamente do legado do século XIX em direcção' ao disparate. Haja paciência!
JFC
aquilo é um museu ?eu julgava que era o showroom para as lojas dos chineses
aquilo por dentro é tudo preto...cansativo para vista, só tem uma vantagem: quando nos cruzamos com um arquitecto não o vemos... :)
que mauzinhos, eh, eh, eh,
tem piada que o JFC fale nessa questão dos envidraçados a poente e na falta de "potência" do ar condicionado, porque o Carrilho resolveu dedicar parte da conversa a cascar nos defeitos técnicos de obras do Corbu e do Mies...
pfff
apaguei um comentário anónimo potencialmente ofensivo para terceiro (ou terceiros) em nada relacionado com o conteúdo da posta
ODP :)
não faça eliminatórias :)...
assim ficamos todos a perder :)
veja lá se quer ir directa para a final... :)
OK ! OK !
LOL
Am,
o seu post é de uma grande inteligência :)
só agora é que tive oportunidade de ler na integra e fica-se super excitado com tanta cultura :): é
thomas bernard, mies van der rohe, corbusier, bauhaus, international style, construtivismo russo, aldo rossi, bryan brace taylor, baudrillard, malévitch,alvar aalto, foster, siza, jacques ranciére, wittgenstein ... e mais algum que me escapou :)
o corbu era ingénuo :):):):)
o rapaz é simplesmente delirante !e os Arup´s o que pensam dele ?:):)
mt obg maria
com tanta citação e tão (oh, mas tão) a propósito, até a-lembra a mais que famosa entrevista do outro...
a pergunta final é muito pertinente
tb gostava de saber...
sobre a questão dos Arup`s penso que é melhor não saber :):):):) quando e como foram consultados?
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