sexta-feira, dezembro 16, 2005

Luto

Perdi o N.º 6 da velhinha revista "Arquitectura Portuguesa", de 1986. Desceu da prateleira, embrulhou-se com o semanário (a devassa) e acabou no Ecoponto. Mal dei pela sua falta, telefonei para todo o lado, falei com Doutoras e Engenheiras, em autarquias e empresas intermunicipais, responsáveis pela "recolha". Demasiado tarde. Trucidada. Por minha culpa. Morreu no campo de batalha, ao serviço deste blog, do qual é a primeira mártir.
Para os eventuais leitores desta prosa (e concerteza para os mais jovens), o (este) elogio fúnebre a uma revista de arquitectura, deve soar, cómico, patético, motivo para o maior sarcasmo e desprezo. Deve de ser muito difícil compreender o impacto que uma simples revista pode ter causado a um jovem estudante de 16 anos pretendente a arquitecto, antes dos computadores, da net, dos blogs... e quando os livros se resumiam a meia dúzia, na biblioteca da António Arroio, ou quando folhear as revistas e livros "modernos" com fotos a cor e tudo nas prateleiras da livraria Barata obrigavam a um passeio de 2 KM a pé, e (algumas vezes) a perder o comboio suburbano de regresso a casa, como num "Filme neo-realista".
Regressando à revista... Terá sido a primeira vez que vi uma obra do Siza Vieira (banco em Vila de Conde), um projecto (ainda académico) do Egas José Vieira que me apressei a tentar copiar, mas principalmente que "li" criticas do Manuel Graça Dias, a mais notável e elogiosa das quais a um trabalho do Arq. Duarte Cabral de Mello (mais tarde meu professor na FAUTL...) para o Funchal.
É quase melodramático, dizer que me faz falta. Pois seja. No fundo é(ra) parte (significante) da minha formação.
E agora, procuro outra, como num filme de Hitchcock, "A revista que viveu duas vezes"!

Dedicado à memória de R.F.