sexta-feira, setembro 05, 2008

O Coma

Parvinho de todo com a leitura do texto do arquitecto Francisco da Silva Dias publicado no Boletim "Arquitectos" n.º 187 (que para variar chegou quase em Setembro...) do mês de Agosto.

O texto ficciona as deambulações de um dos "protagonistas" do Congresso de 48, recém-acordado de um longo sono, de uma "hibernação", de um "coma" de 60 anos, pela "paisagem" da arquitectura portuguesa contemporânea.
Para o autor do texto, o "protagonista" ficaria "deslumbrado", "com o papel que hoje a Arquitectura tem no quotidiano de todos. É provável que se emocionasse ao ouvir dizer ou ver escrito, preto no branco, em documentos que emanavam de uma entidade nunca por si sonhada, a União Europeia, que a Arquitectura é um Serviço Público e que o Direito à Arquitectura é hoje tido por fundamental e indiscutível". Sim... é possível que se "emocionasse"... com o direito dos cidadãos portugueses da UE, à acrescida possibilidade de encomendar o "servicinho" (completo) da Arquitectura (quase que) a quem calha...
"Uma coisa (adianta mais adiante) o espantaria: a paisagem construída do país ( ) a qualidade que o Poder Local tem conseguido imprimir às povoações ao nível do ordenamento do espaço público, onde ( ) surgem obras de arquitectura de inegável significado é, por toda a parte, dissolvida por um mar de "português suave" de pacotilha". Pessoalmente, que não tenho qualquer dificuldade em compreender e até em partilhar o "espanto" do nosso "protagonista" pela inegável e indiscutível qualidade do "ordenamento do espaço público" pelo Poder Local (democraticamente eleito), apenas lamento não ter a oportunidade de questionar o autor do texto quanto à(s) responsabilidade(s) do mesmíssimo Poder Local (conquista de Abril...) no a-par-e-cimento dos "mar(es)" (e marés...) das múltiplas "vivendocas" (MGD) no "estilo" dito "português suave"... Já o "mar" de "vilas utopias", "bons sucessos" & Co., não aparenta preocupar Francisco da Silva Dias... O autor do texto ainda afirma que a "questão" "já não é a tradição versus a inovação" (como se a "tradição" não pudesse também ela ser "inovadora"...), mas a coisa nunca se afasta muito da muito patética recuperação (com bem mais de 100 anos de atraso...) da (velhinha...) "batalha dos estilos", entre os "modernos" e os... outros... entre o direito do arquitecto ao seu (incompreendido...) "mono" (esta a-pareceu-me com "destinatário"...) e o desejável "impedimento" dos "outros" ao "tradicional" ou aos "telhados"... Custa a acreditar que enquanto "kolectivo", a "classe" permaneça acantonada e defensivamente "entrincheirada", nestas magnas "preocupações"... sociais...
Mas "impedimentos" (a "censura" e tal...), "impedimentos" é que não...
O "protagonista" "ficaria, sem dúvida, alarmado se lhe dissessem que a censura ainda existe. Sem Rosto. Larvar mas igualmente corrosiva da liberdade de concepção pela qual tinha lutado."
"Ele (o "protagonista"), a quem o Código Deontológico que Pardal Monteiro gizara proibia qualquer tipo de propaganda que fosse instrumento de concorrência ou distorções na encomenda", não deixaria de reflectir sobre a regulamentação do actual mercado do acesso à encomenda da arquitectura (concurso, honorários, etc.), sobre os "critérios" da propaganda dos editores de revistas e dos "cura-dores" de exposições... quem sabe, sobre o(s) (ab)uso(s) de alguma(s) Liberdade(s)...
"Em alguns aspectos ele sentir-se-ia no reino da utopia alcançada".
Aleluia, colegas!

4 Comments:

Blogger JFC said...

parece ser a confirmação: o Silva Dias adormeceu ao volante...talvez já ha alguns (muitos) anos...

2:49 da manhã  
Blogger AM said...

obg JFC

9:47 da manhã  
Blogger Pedro Homem de Gouveia said...

Pois é, AM, às vezes parece de facto uma classe acantonada (e paralisada) nesse debate ultrapassado entre o moderno e o suave (interessante escolha de palavras...), em que se não se deixa o arquitecto fazer exactamente o que lhe passou pela cabeça ai jesus que querem matar a liberdade... em que mais vale deixar a discussão do gosto com os especialistas (onde é que já ouvi esta...?!)
Às vezes parece que a democracia ainda não chegou à Arquitectura Portuguesa... ou então chega devagarinho...

5:36 da tarde  
Blogger AM said...

obg, pedro

a arquitectura portuguesa é tão democrática como outra coisa qualquer... em Portugal...
odp acha mesmo a arquitectura portuguesa (ou em Portugal) é um óptimo "meio" para "averiguar" do estado ("comatoso"...) da nossa democracia...
para a conversa de chacha dos "estilos", e ainda por cima com o grau (zero) de "profundidade" do artigo do FSD, é que já não há qualquer pachorra
o que pensarão disto aqueles colegas (não é o meu caso) que fazem "tradicional" e/ou "anti-moderno" (podem ser coisas diferentes...), por opção e por convicção!?...
não pode também este artigo ser entendido (ou entendível) como estando a "dizer mal" da obra (ai a liberdade de criticar e os "códigos deontológicos"...) de alguns (outros) colegas!?...
ou será que os "tradicionais" já não tem direito à "vida"!?...
o boletim da OA, de todos os membros da OA, serve para publicar artigos de "tendência" (seja ela qual for)!?...

9:18 da tarde  

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