Um Autor que Difere (Jorge Figueira sobre a Casa da Música de Rem Koolhaas)
Quem escreve (e pensa) bem é o Jorge Figueira. Excelente o artigo " Um edifício que difere" originalmente publicado no Jornal Público (Local Porto), de 10 de Março de 2003, que leio no "Agora que está tudo a mudar, Arquitectura em Portugal", editado pela Caleidoscópio; onde o autor "filia" o edifício da Casa da Música, na dupla tradição "das propostas mais radicais da vanguarda moderna (dos anos 20/30)" e no "experimentalismo des-ideologizado que os anos 60 inauguraram", entre "a "tábua rasa" dos anos heróicos da arquitectura moderna, e o "tudo é belo" da emergência da cultura pop", e entre "a "abstracção" como a nova linguagem formal da arquitectura, e a "colagem" como mecanismo pós-moderno por excelência."
Mais duvidosa, encontro a filiação no "inclusivismo" de Robert Venturi, desenvolvido, relembre-se no "Complexidade e Contradição em Arquitectura", e que o autor entrevê na "confluência contraditória de estilos e temas" da "escolha lúdica de materiais para os revestimentos interiores do edifício."
E digo, "duvidosa" porque, do meu ponto de vista, (a "teoria" que sustenta) a arquitectura de Rem Koolhaas, opõe-se a qualquer prática de "inclusão", ao adoptar os princípios da "exclusão";(teoria) que lhe permite "ignorar" o contexto, dir-se-ia mesmo a cidade (do Porto neste caso), e o "programa", em concreto, de uma "Casa da Música", o que Jorge Figueira, não desconhece ou "esconde", ao relembrar que na "origem" do edifício, "está um (anterior) projecto para uma casa que Koolhaas teve que abandonar".
O que eu diria, é que ao contrário da arquitectura "inclusiva" de Robert Venturi, que "decorre" da análise da complexidade dos "programas" contemporâneos, e que por essa via (da analise e crítica aos programas), permanece "dentro" da "tradição" da arquitectura moderna; a arquitectura de Rem Koolhaas, decorre (e acompanha) os exercícios "pós-funcionalistas" (pós-modernos, e não em estilo pós-modernista) de Eisenmam, na qual o programa, o sítio, ou a escala (também humana) são dados "ultrapassados" de uma experimentação... formalista, que pretende, mais do que "exercer", "questionar" o "lugar" da profissão.
A "diferença", para que o título "Um edifício que difere" remete, têm precisamente esse valor: o de um edifício cuja visibilidade, decorre da sua excepcionalidade... da sua "heróica autonomia disciplinar"... "independente" do reconhecimento da "função social" que o edifício desempenha e da "melhor forma" que pudesse albergar ou "acomodar" (para voltar a Venturi) o seu propósito.
... sempre fiquei a pensar qual seria o valor da "experiência" de aceder ao edifício num dia de chuva (na) "Invicta", para assistir a um espectáculo "nocturno", atravessando a praça com um escorregadio (?) pavimento em pedra e enfrentando a "escadaria" com um guarda-chuva sobre a cabeça...
Mais duvidosa, encontro a filiação no "inclusivismo" de Robert Venturi, desenvolvido, relembre-se no "Complexidade e Contradição em Arquitectura", e que o autor entrevê na "confluência contraditória de estilos e temas" da "escolha lúdica de materiais para os revestimentos interiores do edifício."
E digo, "duvidosa" porque, do meu ponto de vista, (a "teoria" que sustenta) a arquitectura de Rem Koolhaas, opõe-se a qualquer prática de "inclusão", ao adoptar os princípios da "exclusão";(teoria) que lhe permite "ignorar" o contexto, dir-se-ia mesmo a cidade (do Porto neste caso), e o "programa", em concreto, de uma "Casa da Música", o que Jorge Figueira, não desconhece ou "esconde", ao relembrar que na "origem" do edifício, "está um (anterior) projecto para uma casa que Koolhaas teve que abandonar".
O que eu diria, é que ao contrário da arquitectura "inclusiva" de Robert Venturi, que "decorre" da análise da complexidade dos "programas" contemporâneos, e que por essa via (da analise e crítica aos programas), permanece "dentro" da "tradição" da arquitectura moderna; a arquitectura de Rem Koolhaas, decorre (e acompanha) os exercícios "pós-funcionalistas" (pós-modernos, e não em estilo pós-modernista) de Eisenmam, na qual o programa, o sítio, ou a escala (também humana) são dados "ultrapassados" de uma experimentação... formalista, que pretende, mais do que "exercer", "questionar" o "lugar" da profissão.
A "diferença", para que o título "Um edifício que difere" remete, têm precisamente esse valor: o de um edifício cuja visibilidade, decorre da sua excepcionalidade... da sua "heróica autonomia disciplinar"... "independente" do reconhecimento da "função social" que o edifício desempenha e da "melhor forma" que pudesse albergar ou "acomodar" (para voltar a Venturi) o seu propósito.
... sempre fiquei a pensar qual seria o valor da "experiência" de aceder ao edifício num dia de chuva (na) "Invicta", para assistir a um espectáculo "nocturno", atravessando a praça com um escorregadio (?) pavimento em pedra e enfrentando a "escadaria" com um guarda-chuva sobre a cabeça...
7 Comments:
Pois é também o que eu penso sobre a arquitecura. Teoriza-se demais, artificializa-se demais (no sentido de Arte) e esquecem-se coisas básicas. Recordo algo que o Siza disse (e cito de memória) sobre a influência que exerceu sobre ela a visita às obras de Gaudi: dizia ele que, apesar de todas aquelas formas loucas os edifícios funcionavam como os outros - havia puxadores, rodapés e tudo aquilo que torna uma obra habitável e confortável. Não é este o sentido da arquitectura?
obvious
andava há uns dias a reorganizar a minha parca "biblioteca" e pensei em reler o "Complexidade e Contradição..." do Venturi.
Reler...acabar de lê-lo!
O que por vezes se esquece nestas críticas a edifícios é que muitas vezes o edifício precede a teoria que o sustenta...
não sei se é o teu caso mas eu só li o C&C na língua de origem... em português (do brasil?) ou em espanholês, como será?
já quanto ao edifício do Kualhas, a teoria vêm de longe, e acho que "sustenta" a sua arquitectura
português do brasil. chateia um bocado ler aquilo em "brasileiro" mas é o que se arranja...
não me referia em particular ao koolhas, estava a generalizar.
Apesar das imensas """"""""", que tornam difícil a leitura do teu texto, apreciei-o. A casa da música funciona como um exercício nihilista, mas tomando a arquitectura como objecto passível de se tornar em escultura. Há uma tentativa de tornar o objecto um pedaço de arte holístico, mas percebe-se que o processo foi interrompido e a meio começou-se mas é a desenhar Projecto de execução, que já era tarde. Basta andar pela Casa que se compreende que faltou imensa depuração nos pormenores, no desenho dos espaços intermédios e secundários. O próprio espaço principal teve de levar com um mamarracho metálico no palco para resolver as questões sonoras, e a decoração "à tronco de madeira" parece-me demasiado colada com cuspo. (belo aqui são os vidros, não haja dúvida). Mas pior que isso é mesmo um labiríntico meio de percorrer os espaços, barroquista e diria surrealista, com cenários de Alice no país das Maravilhas a aflorar pelo espaço todo, o que para o visitante é "giro", tal como o livro, mas para quem o habita todos os dias parece-me um pesadelo. Houve aqui também um descontrolo de projecto. Quanto à entrada do edifício, concordo com a crítica. O travertino no chão pode ser perigosíssimo, e aquela inclinação de escadas...
Sei que este é um post antigo, mas não consigo deixar de comentar. Infelizmente o grande problema da arquitectura em Portugal prende-se em pessoas como o Jorge Figueira. Em arquitectos que nunca projectaram nada, torna-se difícil encontrar uma credibilidade e bases que os levem a poder comentar qualquer obra de arquitectura. Bem eu posso falar sobre medicina sem ser médico, mas provavelmente isso não será o mais correcto, e corro o risco de opinar de forma errada. Neste caso este pseudo-arquitecto, fica-se mesmo em palavras teóricas de coisas que ele somente pensa. A história da arquitectura e a arquitectura em si não são tão voláteis como se pensa. Existem regras, existem razões. Aconselho vivamente esse e outros "senhores", a aprenderem alguma coisa observando e sendo humildes. Por vezes opinar é a pior coisa que se pode fazer antes de se concretizar algo real.
Bem... Para parafrasear o meu antecessor "Sei que este é um post antigo, mas não consigo deixar de comentar."
Gostei bastante do post, bem como dos comentários de vocabulário apimentado! No entanto, não posso deixar de discordar (publicamente!lol) deste último anónimo que, pelos vistos, deconhece totalmente a importância da reflexâo crítica no campo da arquitectura. Sublinho REFLEXÃO crítica, uma vez que o papel dos críticos é, embora infelizmente, o de reflectir o saber, das obras às massas.
Outrora os arquitectos mais modernos (e tomo o termo moderno sem qualquer conotação a correntes artísticas ou períodística) seriam os que mais viajavam, com certeza. Hoje, vivemos num mundo em que viajamos à velocidade de um click. A explosão de ideias e ideais, bem como a (parcial) democratização do saber leva o mundo das artes em geral a uma subsequente fragmentação.
Jorge Figueira, Pedro Bandeira, Ana Tostões, José António Bandeirinha (sei lá... são tantos e tão diferentes os "pensadores"!) são pessoas importantíssimas na construção de uma "óptica" (para não usar o termo "teoria") coesa e agarrada no tempo.
Quanto à Casa da Música, parece-me que "estou em terreno de críticos", como, suposta e ironicamente, referiu Rem Koolhas numa qualquer reunião. Um programa excepcional, teve direito a um edifício excepcional. Algumas questões de pormenorização foram reconhecidamente "secundárias", são opções! Quanto às escadas, não se pode esquecer a antecipação do projecto para a esxtensa sociedade burguesa que acorrerá ao parque de estacionamento subterrâneo.
Por outro lado, as teorias de formalização etérea, parecem-se demasiado puxadas. Enfim, é um projecto curioso, à semelhança de outros de Koolhas.
Já li de quase tudo sobre a Casa da Música, mas continuo bastante curioso para ver o que se dirá daqui a uns 20 anos. Veremos! :)
Abraço
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