quinta-feira, janeiro 27, 2011

SER DEPENDENTE *

SER DEPENDENTE

No editor, publisher, writer, friend, foe, wife, family sanctions needed.
The straight stuff uncensored.
The liberating internet.

Glen Howard Small, Small at Large, Blog Time (1)

A arquitectura depende (2). Os arquitectos também depende(m)... Menos da (própria) arquitectura (ou da arquitectura propriamente dita) que - para simplificar e resumir - das famosas “condições gerais de produção”. A arquitectura depende, desde logo, da força da gravidade… A partir daí “vareiam” a gravidade das forças que, com toda a força e até à inevitável destruição, a atacam…
A ideia, a figura, do arquitecto “independente”, é o que sobra da ideia do herói romântico melhor personificado, na arquitectura, pela “personagem” de Frank Lloyd Wright. (3)
Os “heróicos” (necessariamente “independentes”…) da geração (“moderna”) que se lhe seguiram (Le Corbusier na arquitectura, Picasso na pintura, etc.), são variações sobre o (mesmo) “tipo”. O herói do conhecido filme The Fountainhead (inspirado em FLW) é, no pós-guerra, a consagração e definitiva fixação do “género” (cinematográfico) junto ( a) do “inconsciente colectivo” e b) das “classes dominantes”) do “público-alvo” (de onde provém e para quem trabalha, “o arquitecto”… “independente”).
A ideia, a figura, de uma arquitectura independente, são restos de uma cultura (“clássica” ou “moderna”), de uma “disciplina”, que já não existe e que na sua procura por “aplicar”, por “sobrepor” (ao real) uma (qualquer) “ordem” (leia-se, o “bom gosto” dominante…), se tornou irrelevante.
Na teoria de arquitectura, da teoria de arquitectura, de meados dos 60’s, Rossi representa a ideia de “independência” e “autonomia”, Venturi a noção de compromisso, “acomodação” e “dependência”. Palavras, “menores”, tragicamente (mal) entendidas como incompatíveis com uma acção “maior”.
Entre nós, o conhecido “manifesto” de Pancho Guedes com a conhecida “reclamação” de “direitos iguais” para arquitectos e… “artistas” (…) é tanto mais infeliz quanto mais contradita muito do que a prática (do próprio) afirma: o compromisso com as “complexidades e contradições” do seu (próprio) tempo (e modo).
A “colecção” de “arquitecturas” que o (economicamente) independente Philip Johnson foi fazendo construir ao longo do tempo no seu quintal de New Canaan, representa, como poucos, no século passado, a ideia limite de uma “arquitectura independente” feita com total e completa “independência”.
O resultado, “interessante”, não é particularmente qualificado e, no acumular dos seus diferentes “estilos”, não é muito diferente do criticado kitsch do Hearst Castle da autoria da arquitecta Júlia Morgan que alguns, menos versados, poderiam correr o risco de comparar à produção de arquitectura… sem arquitecto. (4)
Como a arquitectura e os arquitectos, também os “apostadores de arquitectura” da chamada blogosfera depende(m)… A “blogo” é, como tudo (e como tudo cada vez mais), espaço público e, enquanto tal, (hiper) “espaço” sujeito ao mesmo tipo de “constrangimentos” e “dependências” de outro espaço (público) qualquer… A “independência” da “blogosfera de arquitectura” enquanto potencial espaço “alternativo” de opinião e crítica depende(rá) da boa vontade de cada um…
Acreditar no contrário, como a irónica (?) epígrafe lá de cima parece querer fazer acreditar, é ainda outra forma de… misplaced o-timismo…

(1) http://www.smallatlarge.com/2010/07/hello-world-2/
(2) Architecture Depends, Jeremy Till, The Mit Press
(3) que, recorde-se, nasceu, para a arquitectura, (ainda) dentro da barriga da mãe…
(4) sendo essa, a produção de uma “arquitectura sem arquitectos”, outra noção limite da independência da arquitectura e de uma arquitectura, do arquitecto… independente…

* ODP, JA 240, por amável convite do seu editor, o Arquitecto Manuel Graça Dias