segunda-feira, janeiro 26, 2009

Apeadeiro Olivenza # 3

Por falar em camelos...
O beduíno mor e o merduíno bor a-montaram tenda no deserto do "baixotejo" (clique aqui para linkar o rapaz do funchalinho à rapariga da coina...) para propagandear o amanho dos trilhos e das picadas.
A-parece que com a ventania (dos "alertas cor-de-rosa" e assim...) a coisa esteve (literalmente) por um fio...
Valeram (lhes) uns operacionais de serviço, deitados no chão, a segurar as pontas da barraca...
Não sei se existem "fotos", mas também não fazem grande falta...
Não existe melhor metáfora.

5 Comments:

Blogger alma said...

nada melhor que uma boa metáfora :)
neste país cor de rosa...

11:57 da manhã  
Blogger AM said...

Chicks, dig, dig, d-i-g dig, dig metaphors

Sparks

6:14 da tarde  
Blogger Carlos Luna said...

ALGO MEXE EM OLIVENÇA. ORA VEJAM:
(carlosluna@iol.pt)

JORNAL "REGISTO"(distribuição gratuita por todo o Alentejo), 23-Fevereiro-2009(artigo com
uma segunda parte bastante boa, e profunda)
JORNADAS CULTURAIS REUNEM LINGUISTAS E HISTORIADORES DE PORTUGAL E ESPANHA
OLIVENÇA DEBATE IMPORTÂNCIA CULTURAL DA LÍNGUA PORTUGUESA
(artigo não assinado; gravura com a parte final da Carreira, o "Terreiro do Chão
Salgado", destacando-se a calçada portuguesa)
No próximo Sábado, 28 de Fevereiro (de 2009) celebrar-se-á, no Convento de São João de
Deus, em Olivença, uma Jornada sobre o Português Oliventino, organizada pela Associação
cultural Além Guadiana e com a colaboração do Gabinete de Iniciativas Transfronteiriças,
da Junta da Extremadura, da Deputação de Badajoz e da Câmara Municipal de Olivença.
Segundo a organização, este evento pretende constituir um foro de informação e debate
em torno à
importância da língua portuguesa, criando assim iniciativas que contribuam
para a sua vitalização.
A Língua Portuguesa fala-se em Olivença desde a Idade Média. Até meados do Século XX,
o uso do Português era majoritário, com uma população que se poderia classificar de
bilingue. Hoje encontra-se num evidente processo de desaparição, reduzida a falantes
situados nas idades superiores aos 65 anos.
Nesta Jornada, linguistas, universidades de Portugal e Espanha e instituições como o
Conselho da Europa e oInstituto Camões estarão prtesentes para falar do valor cultuiral
dos dialectos e das línguas minoritárias na Europa, das características do Português que
se fala em Olivença e das possíveis atuaçõesa para reverter a dinâmica da desaparição de
uma língua que faz parte da identidade cultural oliventina.
Em pouco mais de dois séculos de domínio espanhol quase desapareceu o dialecto luso.
Só os mais idosos é que fazem uso do idioma, mas apenas em ambiente familiar.
O último relatório do Comité de Peritos do Conselho da Europa, que faz um balanço
crítico da aplicação da Carta Europeia das Línguas Minoritárias ou Regionais, aprovada em
1992, recomendou no final de 2008 que os naturais de Olivença devem ter acesso à
aprendizagem da l+ingua lusa. O documento defende "a protecção e promoção do português
oliventino".
Para evitar que a ligação ao dialecto luso se perca, o Conselho da Europa propõe o
desenvolvimento de um modelo de aprendizagem do dialecto português. No entanto, e pese
embora as melhorias verificadas no domínio da aprendizagem, constrangimentos de natureza
social e cultural, sobretudo a pressão exercida pelo castelhano, impedem a fluência do
idioma no território que os espanhóis ocupam desde 1801, conforme tem sido denunciado por
vários investigadores portugueses.
A este propósito, Maria de Fátima Matias, docente da Universidade de Aveiro, no seu
trabalho de investigação com o título "A Agonia do Português em Olivença", publicado na
revista de Filologia Românica (2001), conclui que, decorridos pouco mais de 200 anos de
ocupação espanhola, esta contribuiu fortemente para o progressivo "desconhecimento do
suporte escrito da língua portuguesa".
Actualmente, o português oliventino está "linguistica e socialmente desprestigiado"
por estar "ausente da instituição escolar, da administração pública, da igreja e dos
media". Rapidamente foi identificado com a "ruralidade e o analfabetismo, como se fosse o
eco do passado", considerado um "chaporrêo", uma "forma corrupta de falar, uma linguagem
desajeitada", realça Fátima Matias, frisando que a rejeição do português atingiu "maior
veemência no sexo feminino", em sintonia com estudos similares que apresentam as mulheres
na liderança da adesão à língua oficial. Também o linguista Manuel Jesus Sanchez
Fernandez, no seu trabalho "Português de Espanha; exemplo: o de Olivença", editado em
2004, reconhece que o idioma luso "está em risco".
A este propósito, a Carta Europeia considera que a utilização de uma língua regional
ou minoritária na vida privada e pública "constitui um direito imprescindível, em
conformidade com os princípios contidos no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e
Políticos das Nações Unidas, e de acordo com o espírito da Convenção para a Protecção dos
Direitos do Homem e das Liberdades".

10:48 da tarde  
Blogger Carlos Luna said...

ANTES DE SE DIZEREM PIADAS SOBRE OLIVENÇA, DEVE-SE SABER ALGO DE HISTÓRIA...
carlosluna@iol.pt
APELO A ESPANHÓIS E PORTUGUESES PARA SALVAÇÃO DE UMA LÍNGUA
A SITUAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM OLIVENÇA

1)CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS/SITUAÇÃO DO ALENTEJANO

Já não se considera, hoje em dia, que seja "natural" a desaparição de
uma língua. Muito
menos se aceita que haja línguas "superiores" e "inferiores".
Sabemos que uma língua viva sofre evolução. Isso é diferente de
defender que uma
linguagem deva desaparecer, ainda que tal possa ocorrer.
Uma língua não é só um conjunto de sons, articulados de forma
convencional, de modo a
designar algumas necessidades básicas de comunicação. Uma língua,
sabemo-lo hoje, é um
Universo Cultural no qual, entre outras coisas, se encerram os
pensamentos, as emoções,
as percepções do Mundo. A língua reflecte a História, e influencia-a
por sua vez.
Línguas houve que não sobreviveram. Outras que foram salvas à beira da
extinção.
Lembramo-nos todos do caso do Mirandês.
Mesmo as línguas menos utilizadas mostram muito do Universo em que
evoluíram. Refletem a
História de um grupo humano.
O Português, porque é uma língua viva, não parece ter os problemas de
sobrevivência de
uma língua minoritária. Afinal, não tardará muito que tenha trezentos
milhões e
utilizadores. A sua divresidade enriquece-a permanentemente.
Mas... porque não é uniforme, nem está parada no tempo, a Língua
Portuguesa sofre
agressões. E algumas das suas, digamos, formas, podem estar ameaçadas.
Ninguém duvida,
por exemplo, que a "forma" alentejana de falar o Português esteja em
relativo declínio.
Mesmo porque ( e aqui entram aspectos políticos ), ao privilegiarem-se
unitarismos
linguísticos ditos "cultos" e centralismos castradores e
preconceituosos, não houve
grandes cuidados em preservar esse património cultural que era ( e ainda é ) o
"alentejano".
Apesar de tudo, o "alentejano" é um dialecto, ou subdialecto, do
Português. Os falantes
do Português Padrão, os falantes actuais da língua lusa no Alentejo,
se verdadeiramente
cultos, procurarão preservá-lo, registá-lo por escrito, explicá-lo. E,
porque o
"alentejano" tem raízes conhecidas, ele será, pelo menos,
compreendido... embora corra o
risco de ser pouco "sentido".
Àqueles que consideram o "alentejano" uma forma inferior, por só verem
o prestígio social
numa forma de se expressar e não a sua lógica interna, a sua riqueza
cultural, ou o seu
valor histórico, nada há a dizer, pois essas pessoas não poderão ser
consideradas como
verdadeiramente cultas.
Para quem a língua é mais do que isso, para aqueles que têm do
fenómeno linguístico uma
visão mais humanista, muito há a dizer.
O "alentejano" tem séculos de existência". Numa época em que se procura tornar
impensadamente igual tudo o que rodeia o Homem, esquecendo-se que uma
das coisas que mais
o satisfaz é a diversidade, há que lutar para que não morra. Essa é
uma tarefa de todos
os alentejanos, e de todos os amigos da cultura, portugueses ou não.
A luta é difícil, mas há meios, é possível aceder a informação, e
nada, senão muitas
vezes os preconceitos dos próprios alentejanos, impede que se faça um
esforço nesse
sentido.

2) UMA REGIÃO ONDE O "ALENTEJANO" ESTÁ EM RISCO

Mas... a Língua Portuguesa, e, neste caso concreto, a sua forma
alentejana, corre riscos,
e sérios, de extinção, num espaço geográfico onde era "rei e senhor".
Numa região que
fica junto da sua matriz natural. As opiniões políticas não são
consensuais sobre ela,
mas procuremos evitar essa polémica, embora não o possamos desdenhar
completamente, com o
risco de elaborarmos um diagnóstico incorrecto e de prováveis soluções
"curativas" não
poderem, por isso, ser eficazes.
Refiro-me à Região de Olivença, hoje constituída por dois Concelhos:
Olivença e Táliga.
No total, pouco mais de 12 000 habitantes em 463 Km.2. Aqui,
infelizmente, conforme foi
denunciado por dois estudos linguísticos bem significativos (Maria de
Fátima Resende
Matias, "A AGONIA DO PORTUGUÊS EM OLIVENÇA", 2001 ,Revista de
Filologia Românica, vol.
18, 201, e Manuel Jesus Sánchez Fernàndez, "PORTUGUÊS DE ESPANHA.
EXEMPLO: O DE
OLIVENÇA", 2004 ), o Português está em risco. Está "em agonia", diz um
dos estudos.
Não é uma história bonita, esta. E está incompleta. Todavia, a
História da sobrevivência
da Língua Portuguesa em Olivença terá que ser feita um dia. Mais do
que sobrevivência, é
uma História de Resistência, dados a pressão e os condicionalismos
vários, ainda muito
mal estudados.
Mas tem que ser contada, uma e outra vez, enquanto é tempo. O drama
começou em 1801...
Tem-se aqui de se referir toda uma política. Não se pretende levantar
uma polémica, mas
não é possível compreender o que se passou, e a situação actual,
ocultando-se factos
decisivos.
Assim, já em 26 de Janeiro de 1805, suspendeu-se, naturalmente, o uso
da moeda portuguesa
em Olivença. As autoridades espanholas comunicaram então a vários
ofícios, nomeadamente
aos aguadeiros, que era obrigatório usar medidas espanholas
(referiam-se a comprimento,
peso, volume, etc.).
Claro que a Língua não tardaria a sofrer as consequências. A 20 de
Fevereiro de 1805, foi
decidido suprimir toda e qualquer escola portuguesa, bem como o ensino
do Português. A 14
de Agosto de 1805, as actas da Câmara Municipal passaram a ser
escritas obrigatoriamente
em Castelhano, o que fez uma vítima: Vicente Vieira Valério. Este,
negando-se a escrever
na Língua de Cervantes, teve de ceder o lugar a outro. E acabou por
morrer à mingua de
recursos, personificando um drama cujo desenvolvimento se processaria,
geração após
geração.
Há notícias de oposição dos oliventinos a estas medidas. As Escolas
privadas continuaram
a ministrar ensino em Português, até que são fechadas a 19 de Maio de
1813, com o
propósito (oficial) "de evitar qualquer sentimento patriótico
lusitano" ( A.M.O. leg/Carp
7/2-18, 19-05-1813, n.º 1324; revelado por Miguel Ángel Vallecillo
Teodoro, "Olivenza en
su História", Olivença, 1999 ).
Mas, porque eram muitos os oliventinos que queriam que os seus filhos
fossem educados na
língua materna, continuaram a existir professores particulares para o fazer. O
"Ayuntamiento" não hesitou, e proibiram-se "as aulas particulares, sob
pena de multa de
20 Ducados", em 1820 ( A.M.O. leg/Carp 8/1-171, 7-10-1820, n.º 1704;
revelado, também,
por Miguel Ángel Vallecillo Teodoro, "Olivenza en su História",
Olivença, 1999 ).
A população oliventina mantinha as velhas tradições, a vários níveis,
procurando agir
como se nada tivesse mudado. Mas tal foi sendo cada vez mais difícil,
e muita gente foi
emigrando, principalmente para as povoações portuguesas mais próximas.
Em 1840, trinta e nove anos após a ocupação espanhola ( recorde-se:
efectuada em 1801 ),
o Português foi proibido em Olivença, inclusivamente nas Igrejas. O
combate contra a
Língua de Camões já vinha de trás, todavia.
Algumas elites forma aceitando o castelhano. O Português foi-se
mantendo, teimosamente,
principalmente a nível popular. Numa deliciosa toada alentejana, que
logo as autoridades,
vigilantes, classificaram como "chaporreo", palavra de difícil
tradução (talvez "patois";
talvez "deturpação"), que criou complexos de inferioridade nos
utilizadores, levando-os,
cada vez mais, a usar a Língua Tradicional apenas a nível caseiro,
dentro do aconchego do
lar, em público, quase só por distracção, ou com amigos próximos.

3) ÂNGELO BREA HERNANDEZ E AS SUAS CONCLUSÕES

Cabe aqui citar algumas considerações do autor contemporâneo Ângelo
José Brea Hernandez,
o que já fiz, sem hesitar, noutros trabalhos. A maneira como ele
descreve o fenómeno de
destruição de uma língua, tornada minoritária ,são de extrema actualidade.
Segundo o citado, é costume, no colonialismo "tradicional", considerar
a Cultura
Dominante como muito superior às culturas dominadas. Tal situação
verifica-se sempre em
qualquer situação colonial, já que uma cultura tenta destruir a outra.
Sem nos limitarmos
apenas ao exemplo do Colonialismo Clássico, podemos analisar este
aspecto através de
outras situações. Assim, é sabido que a Cultura Urbana tenta dominar a
Cultura Rural; que
a cultura da Grande Cidade procura dominar a das pequenas cidades; que
a Cultura das
Regiões Centrais tente dominar as Culturas das Regiões Periféricas.
Todavia, nestes casos
quase não existe um conflito num sentido clássico ou violento do
termo. Já, por exemplo,
no colonialismo europeu em África, as diferenças são significativas, e
o conflito assume
formas bem violentas...
Todavia, entre culturas próximas, a cultura dominante tem evidente
facilidade em
assimilar a da sua região dominada. À partida, já muita coisa é igual!
Não obstante, e por estranho que pareça, isso nunca é completamente
possível. Isto porque
se de facto a região, mesmo pequena, tem uma cultura própria ainda que
parecida, há
muitos factores que o impossibilitam ou dificultam em externo, como a
própria dinâmica
interna da língua, a psicologia, o carácter, os nomes e apelidos, a
arquitectura, e
muitas outras coisas, de maior ou menor revelância. Por isso, por toda
a Europa, por
exemplo, em muitos Países, algumas culturas locais conseguiram
resistir e conquistar o
direito à diferença. Nacionalidades/Culturas que se julgam mortas
renasceram. Desde
talvez os Séculos XVI e XVII, o colonialismo, ou colonização, e a
aculturação forçada,
perderam quase toda a sua eficácia na maior parte da Europa. As
pequenas regiões, mesmo
falando línguas dos seus dominadores, não aceitam a sua destruição.
Também não há razões fundamentais, hoje em dia, para se considerar que
as culturas
maiores em área ou população têm mais direitos do que as menores. E
parte-se do princípio
que, entre povos e estados modernos, Estados de Direito, os problemas
culturais, ou
fronteiras, ou outros, já não são tão dramaticamente conflitivos como
noutros tempos. Por
outro lado, deixar problemas por resolver, ignorando-os, provou não
ter sido uma atitude
correcta, como o provaram os conflitos aparentemente ilógicos e cruéis
na antiga
Jugoslávia...
Também muitos argumentos de carácter económico mostraram não ser
definitivos... porque
nada é definitivo! Hoje, uma economia está mais forte... mas, no
passado, não era isso
que se verificava! E... quem pode dizer como vai ser o futuro?
Afinal, NÃO HÁ CULTURAS SUPERIORES OU INFERIORES. HÁ CULTURAS
DIFERENTES, TODAS
RESPEITÁVEIS. NÃO HÁ OUTRO CAMINHO VISIVEL PARA O FUTURO QUE NÃO SE
BASEIE NESTE
PRINCIPIO. Na verdade, a causa de muitos conflitos actuais está no NÃO
CUMPRIMENTO OU
ACEITAÇÃO deste princípio, quer no passado, quer no presente. Desta
forma, alguns dos
argumentos tradicionais para justificar algumas aculturações estão
sujeitos a uma curiosa
evolução, perdendo valor, enquanto outro tipo de argumentos ganham peso.

4) VOLTANDO A OLIVENÇA

O hábito e o amor-próprio levavam o oliventino a, quase
constantemente, "saltar" do
castelhano para o português. De tal forma que, depois de duzentos anos
de pressão, ele é
entendido e falado por cerca de, pelo menos 35% da população, segundo
cálculos da União
Europeia (Programa Mosaïc).
Como sucede, contudo, neste casos, em qualquer ponto do Globo, o
Português foi perdendo
prestígio. Não sendo utilizado nunca em documentos oficiais, na
toponímia (salvo se
traduzido e deturpado), ou em qualquer outra situação que reflectisse
a dignidade de um
idioma, manteve-se, discretamente, por vezes envergonhadamente. A
Televisão e a Rádio
vieram aumentar a pressão sobre o seu uso e compreensão.
A Ditadura Franquista acentuou a castelhanização. Agora oficialmente,
o Português era uma
Língua de quem não tinha... educação! Uma Língua de Brutos, ou, como
também se dizia, uma
Língua Bárbara!
Não obstante, ela sobreviveu. Mesmo nas ruas, surgia e ressurgia, a
cada passo...
raramente na presença da autoridades. Mesmo algumas elites continuavam
a conhecê-la,
embora numa fracção minoritária.
Nas décadas de 1940, 1950, e 1960, era raríssimo, mesmo impossível em
alguns casos,
encontrar professores, polícias, funcionários em geral, que fossem
filhos da terra
oliventina, na própria Olivença. Colonizadores inconscientes, peões
numa política geral
de destruição das diferenças por toda a Espanha.
Se há ironias na História, esta pode ser uma delas. Alguns desses
cidadãos "importados",
com muito menos complexos que os naturais porque não tinham, quaisquer
conflitos de
identidade, ou os seus filhos, puseram-se a estudar os aspectos "curiosos",
"específicos", da cultura oliventina! "Oliventinizados", por vezes
até, ainda que
ligeiramente, em termos linguísticos, acabaram por produzir trabalhos
de valor sobre a
cultura da sua Nova terra, que podem chamar para sempre, e sem
contestações, de Terra
Mãe, por adopção, por paixão, ou já por nascimento.

5) NOVOS TEMPOS/ALGUMAS PROPOSTAS DE SOLUÇÃO

A Democracia deveria ter aberto novas perspectivas, mas os fantasmas
não desapareceram de
todo. Alguns cursos de Português foram surgindo, com maior ou menor
sucesso. Por vezes ao
sabor de questões políticas, como durante a Década de 1990 por causa
dos avanços e recuos
no atribulado processo que levou à construção de uma nova Ponte da
Ajuda o Guadiana,
entre Elvas e Olivença (inaugurada em 11 de Novembro de 2000).
Em 1999/2000, continuando em 2000/2001, a Embaixada de Portugal em
Madrid, e o Instituto
Camões, passam a apoiar o apoiar o ensino do português no Ensino
Primário em todas as
Escolas de Olivença. Incluindo as Aldeias. Apenas Táliga, antiga
aldeia de Olivença
transformada no Século XIX em município independente, está ainda de
fora deste projecto,
para o qual foram destacados, primeiro três, depois quatro professores
portugueses.
Aproveite-se para dizer ser urgente acudir a Táliga, onde só 10% da
população ainda tem
algo a ver com a Língua de Camões. Urgentíssimo!
Tinha sido dado um primeiro e importante passo. Mas não se tem
revelado suficiente. O
Estado Português deverá tentar influenciar a tomada de outras medidas,
dada até a sua
posição sobre o Direito de Soberania sobre Olivença: o ensino da
História (que não é
feito em parte nenhuma em Olivença), por exemplo: a utilização prática
da Língua, em
documentos oficiais, toponímia, etc.; a continuação do Estudo do
Português até níveis de
ensino mais avançados; e tantas coisas mais que se poderiam referir!
Não resisto a citar um caso em que a omissão de dados históricos é
particularmente
significativa: muitos oliventinos pensam que há "Olivenças" na América
Latina, mas pensam
ser no México ou na Argentina, o que é falso. Ignoram,quase todos, que
há três Olivenças
no Brasil (uma no interior de Alagoas; outra na costa baiana, junto a
São Jorge de
Ilhéus; uma terceira no Amazonas, denominada São Paulo de Olivença), e
que houve uma em
Angola (hoje Capunda-Cavilongo) e outra em Moçambique (hoje
Lupulichi). Que idéia tem o
oliventino do seu papel no Mundo?
Pouco interessa aqui dar demasiada relevância ao problema que subsiste
entre os dois
maiores Estados Ibéricos. O que não se pode negar é e ele existe e
influencia esta
problemática, ainda que pouco importe aprofundar aqui quem tem razão.
Não se pode,
também, é "fingir" que está tudo perfeitamente definido ! muito menos
em nome do
politicamente correcto....
Para já, e acima de tudo, é preciso dar à Língua Portuguesa
dignidade... e utilidade.
Descolonizar/Recuperar Cultural e Linguisticamente, pelo menos em
termos psicológicos.
Revalorizar o Português que sobrevive, o qual, por ser uma variante da
fala lusa regional
do Alentejo, é vítima de comentários pouco abonatórios. Deve-se "fazer
a ponte" entre as
velhas gerações e os jovens alunos. Ensinando-lhes, por exemplo, a
partir de exemplos da
velha poesia popular e erudita oliventina, no idioma de Camões, e que
é ainda, graças a
recolhas etnográficas e a alguns poetas populares vivos,
suficientemente conhecida para
tal. Porque, sem perceberem que estão a dar continuidade à cultura dos
seus avós, os
jovens oliventinos dificilmente compreenderão que aprender a língua
lusa é muito
diferente de aprender uma língua estrangeira (Inglês, Francês,
Alemão). É preciso dizer
claramente que o Português é imprescindível para que as novas gerações
compreendam o que
as gerações anteriores quiseram transmitir.

6) EXEMPLOS DE FALA OLIVENTINA/UMA VOZ CONSCIENTE

Não resisto a dar aqui alguns exemplos da tradição popular oliventina,
dominada pela
terminologia alentejana:

Na Vila de Olivença
não se pode namorar!
As velhas saem ao Sol
e põem-se a criticar!

Ó minha mãe, minha mãe,
"companhêra" de "mê" pai,
eu "tamêm" sou "companhêra"
daquele cravo que ali vai!

Eu tenho uma silva em casa
que me chega à "cantarêra"
busque "mê" pai quem o sirva
que eu "nã" tenho quem me "quêra"!

Olha bem para o "mê" "pêto"
onde está o coração
vê lá se disto há "dirêto"
diz-me agora: sim ou não !

"Azêtona" pequenina
também vai ao lagar;
eu também sou pequenina
mas sou firme no amar.

Saudades, tenho saudades,
saudade das "fêticêras".
Lembrança das amizades
da terra das "olivêras".

Se eu tivesse não pedia
coisa nenhuma a "nênguém"
mas, como "nã" tenho, peço
uma filha a quem a tem.

Adeus, Largo do Calvário
por cima, por baixo não.
Por cima vão os meus olhos
por baixo, meu coração.

Textos destes poderiam multiplicar-se. Ainda, entre os idosos, há quem
conheça estas
quadras. Mas entre os jovens, poucos as conhecem. Como é possível que
não se ensine
Português aos oliventinos... começando por quadras como estas ?
Começando por ouvir
idosos declamarem-nas ?
Exemplos de que não tem sido essa a perspectiva do Ensino do Português
ora leccionado
encontram-se, por exemplo, no facto de, durante algum tempo, ter-se
considerado que
continuar o Ensino do Português no Secundário, como sucede em Badajoz
e noutros locais,
poderia ser perigoso em Olivença. Ridículo! Depois, tal foi levado a
cabo, dizem que
quase mais por insistência do Professor João Robles Ramalho, que de
outra coisa. E, como
o dito professor morreu, de repente, há uns meses... espera-se que tal
não seja usado
como desculpa para não se voltar a ensinar a língua a nível mais
avançado. Haja
esperança....
Mas a situação actual não é famosa. Há estudos que falam em "declínio
do Português em
Olivença", no seu uso coloquial. Como dizia um jovem oliventino (Junho
de 2007), a este
respeito, «isto é uma verdadeira tragédia; depois de pouco mais de 200
anos, o português
vai desaparecer em Olivença; a alma dos povos é a lingua; a lingua é a
memória, é tudo;
em Olivença vam ficar sómente as pedras, as fachadas, do que foi o seu
passado português;
Nao há nada mais triste que conhecer que o fim vai chegar e ninguém
fiz[fez] nada para
evitá-lo; ninguém compreende que a morte do último luso-falante vai
ser a morte da alma
portuguesa, o fim de gerações falando português nas ruas, nas
moradias, no campo
oliventino, ao longo de mais de sete seculos?». E continua: «O artigo
da senhora Fátima
Matias explica perfeitamente as razoes e o contexto da agonia do
português em Olivença;
mas... agora ja nao há ditadura; Deveriamos ficar orgulhosos de ter
esta riqueza
linguística e procurar a defesa
e o ensino do português oliventino; (...) e, um pouco também, o Estado
português é também
responsavel; com independência de questões de índole soberanista,
deveria implicar-se na
promoção do português em Olivença e nao sómente não reconhecer [a
soberania espanhola] e
não fazer nada.»
Pode-se aplaudir o que se faz hoje, mas é imprescindível algo mais:
faça-se um estudo do
Português-Alentejano falado em Olivença, e ligue-se o mesmo ao
Português-Padrão ensinado
nas Escolas, de modo a fazer a ligação entre as gerações e produzir uma normal
continuidade que deveria naturalmente ter ocorrido. Assim se corrigirá
a distorção
introduzida pela pressão do Castelhano. Este estudo pode ser feito por
quem se mostre
capaz de o fazer: portugueses, mas também alguns especialistas e
linguistas extremenhos.
A nenhum Estado (Portugal ou Espanha) se poderá perdoar deixar morrer
uma cultura !

7) UMA LUTADORA EM NOME DA CULTURA E DA TRADIÇÃO

Há alguém, em Olivença, que é um exemplo. Trata-se de uma Senhora, que
não admite que
ponham em causa o seu amor a uma Olivença espanhola. Todavia, e para
honra e Espanha,
esta incansável senhora, Rita Asensio Rodríguez, tem dedicado a sua
vida a escrever
livros e mais livros, onde descreve os velhos costumes oliventinos, e,
o que mais nos
interessa aqui, a sua maneira de falar. Muitas vezes ela opina que se
trata de formas
únicas no mundo, pois desconhece o "alentejano". Todavia, ela faz
recolha após recolha, e
é ela que mais sabe, hoje em dia, sobre a fala popular oliventina. O
seu último trabalho
("Apuntes para una História Popular de Olivenza", 2007), para além de
descrever inúmeras
tradições populares, algumas já desaparecidas, tem no fim uma espécie
de "pequeno
dicionário" de oliventino-espanhol.
Citar alguns exemplos é a melhor forma de justificar o tema da minha
comunicação.
Começo por termos que não foram alterados, e que são comuns ao
Português -Padrão:
Alcofa; Atrapalhado; Abóbora; Agriões; Alfazema; Bacorinho; Brincos;
Bicas; Bazófia;
Costas; Carocha; Chapéu; Coentro; Calças; Coelho; Courela;
Espalhafato; Escaravelho;
Esquecer; Ferro (de engomar); Fornalha; Grãos; Gargalo; Garfo;
Ervilhas; Lenço; Maluco;
Melão; Minhocas; Osga; Pousio; Picha; Pintassilgo; Peúgas; Poleiro;
Panela; Rola;
Roseira; Ranho; Saudade; Salsa; Turra; Tacões; Ventas (nariz); Vespa.
Sigo com termos alentejanos,ou que considerei como tais para melhor
explicar,na sua forma
original, na sua forma actual usada em Olivença, e traduzidos, se necessário:
Azevia/Açubia(-); Alguidári; Alface/Alfaça; Azêtona; Arrecadas/Arcadas
(grandes brincos);
Andorinha/Andrurinha; Alarvices; Paleio/Apaleo; Asnêras; Amanhado
(arranjado, preparado);
Alicati; Alentar/Alantar (crescer); Aventar (deitar fora, derrubar);
Vasculho/Basculho
(vassoura); Melancia/B´lancia; Barbulha (borbulha); Brócolos/Broquis;
Bebedêra/Bebedela;
Biquêra; Badana (mulher velha); Baldi; Bandalho (mal vestido);
Barranhola/Barranhali
(Banheira); Púcaro/Búcaro; Boleta (Bolota); Caliche (Caliça); Cuitadinho;
Descarada/Cascarada (!); Corremaça (correria); Cueiros/Culêros; Chico
(Francisco);
Descasqueado (Limpo); Dôtorice (jactância); Embatucado (sem palavras);
Escandalêra;
Engadanhado (impedido de usar os dedos por causa do frio);
Empolêrar-se; Esturricar;
Escancarar(abrir totalmente); Ajoelhar-se/Esvoelhar-se;
Escavacada/Escavada (!); Entrudo;
Enciêradas (gretadas de frio); Janela/Esnela; Centopeia/Entopeia;
Falhupas (chiapas de
lume); Esfregão/Fregón; Fartadela; Feij
ão-frade/Fradinho; Fanhoso; Fedorento/Fudurento; Fêtecêra; Farinhêra mole;
Ferrugento/Furrugento; Fatêxa; Garganêro (açambarcador, egoísta);
Galiquêra ou Caliquêra
(doença venérea); Libória (tonta); Lençoli/Lançoli; Leque/Lecre;
Mangação/Mangaçón
(troça); Melhoras (Boas melhoras); Monte/Monti (Herdade);
Mexeriquêra/Mixiriquêra;
Mascarra (Sujidade, Amorenado); Mondar (actividade agrícola); Nódoas/Nodas;
Pantanêro/Patamêro (lama); Cair de Pantanas (cair de costas);
Pelintra/Pilintra;
Passarola/Passarinha/Passarilha (Púbis e vulva); Piali (Poial);
Reboliço/Raboliço;
Remela/Ramela; Repesa (arrependida); Ralhar/Rayari; Rabujento/Rabulhento;
Ceroulas/Cirôlas; Chocalhos/Sacayos; Surrelfa; Saboria (Sensaboria);
Cenoura/Cinôra;
Sabola (Cebola); Tanjarina; Devagarinho/Vagarito; Velhici; Varais dos
òculos/Varales dos
ócalus; Sarrabulho (confusão, desorganização)
Lamento ter-me alongado, mas talvez assim tenha transmitido algo de
concreto que de outra
forma não seria possível. Ouviram falar "alentejano", ou oliventino...
como queiram; e
esta senhora, Rita Asencio Rodríguez, tem mais três ou quatro livros
mais antigos
publicados dede há trinta anos.
Como se pode deixar perder tudo isto? A História não nos perdoaria.

8) ALGUNS EXEMPLOS COLHIDOS AQUI E ALI

Não resisto a lembrar algumas reacções com que me deparei em Olivença.
Por exemplo, numa aldeia, falando em Português com os donos de um
"estanco" de Tabacos,
insisti no conhecimento histórico e na preservação da língua. Os
interlocutores, falando
em Português, contestavam essas opiniões. Dei o exemplo deles
próprios, a falar a língua
lusa. A reacção foi devastadora: "Malditos dos nossos pais, que nos
deixaram esta língua!"
Outro exemplo: num Monte (herdade) oliventino, falando com uma senhora
de, talvez, trinta
anos, fui correspondido em português/alentejano. Recordo uma frase
dela, ao dirigir-se ao
marido: "Segura aqui no "minino", para eu temperar a "selada".
Mas, cerca de cinco minutos depois de conversação, a mesma senhora,
sem que nada o
fizesse prever, interrompia o seu discurso na língua de Camões, e
declarou, aterrada:
"Desculpe! Estou a falar em Português! É falta de Educação!"
Começou a falar em castelhano. Claro, contestei a decisão... ouvindo
aquilo que talvez
mais irrita um alentejano em Olivença (e se ouve continuamente...)
como justificação:
"Isto que a gente fala já não é Português, é um "chaporreo".
Um outro exemplo pretende mostrar como o Português que se ensina
actualmente em Olivença
provoca choques geracionais. Um idoso de um Monte (herdade), quando
foi por mim elogiado
por falar idioma luso, ripostou-me: "isto já não é Português, nem é
nada. A minha
sobrinha, que aprende na Vila (Olivença), é que fala um Português
verdadeiro. Ela até me
critica!"
Para acabar, um exemplo mais pitoresco. Encontrei em Olivença um homem
de cerca de
cinquenta anos, que, ironizando, me disse que falava Português porque
nessa língua "não
há confusões entre Padre (sacerdote) e Pai." Aqui, uma posição crítica
em relação ao
cristianismo ajudava a preservar a língua.

9) JÁ OS ANTIGOS SABIAM...

A atitude de muitos oliventinos, que se orgulham de já falarem
espanhol "sem acento", e
de já não se distinguirem dos "espanhóis verdadeiros", o que, já por
si, é uma afirmação
curiosa, faz-me lembrar uma "análise" de Tácito, sobre o modo como os
conquistados pelo
Império Romano iam aceitando a Cultura do Conquistador.
Dizia ele: "(...) os mais propensos há pouco a rejeitar a língua de
Roma ardiam agora em
zelo para a falar eloquentemente. Depois isto foi até ao vestuário que
nós temos a honra
de trajar, e a toga multiplicou-se, progressivamente. Chegaram a
gostar dos nossos
próprios vícios, do prazer dos pórticos, doa banhos e do requinte dos
banquetes, e estes
iniciados LEVAVAM A SUA INEXPERIÊNCIA A CHAMAR CIVILIZAÇÃO AO QUE NÃO
ERA SENÃO UM
ASPECTO DA SUA SUJEIÇÃO."
Podemos transpor esta reflexão para o campo linguístico em Olivença. E
só nos podemos
espantar com "a sabedoria dos antigos", como se costuma dizer.

10) CONCLUSÕES

Contrariar a situação de agonia do Português Popular de Olivença é uma
tarefa que não se
limita aos defensores da lusofonia. Para já, alguns possíveis
"remédios" foram propostos
ao longo deste trabalho.
Mas a questão NÃO É SÓ lusófona.
Quero deixar aqui um apelo a Espanha, e muito particularmente às
autoridades da
Extremadura Espanhola, e ainda mais particularmente às autoridades
municipais da Região
Histórica de Olivença.
Não importa que se defenda que Olivença deve ser espanhola,
portuguesa, ou até mesmo
francesa ou coreana. O que não é digno é que, em pleno Século XXI,
numa Europa que se diz
herdeira e praticante de valores humanistas e democráticos, nada se
faça para combater o
risco de desaparição de uma língua, que é o reflexo de toda uma cultura.
Não é aceitável que não se procure restituir a dignidade a uma cultura
tradicional.
Também não é muito digno que não se informe toda uma população das
suas raízes e da sua
História. Se se quiser, recorrendo a uma frase feita, "não é europeu",
e nem sequer
politicamente correcto.
Também o Estado Português não está isento de culpas. Independentemente
de aspectos
políticos e de contestação de traçado de fronteiras, aspectos que não
importa desenvolver
aqui, Lisboa tem a obrigação de agir. Ao abrigo das suas competências,
pode, deve,
transmitir muito claramente o seu descontentamento e a sua apreensão.
Propor soluções.
Editar brochuras. Protestar contra a ocultação da História. Como faz
noutros pontos do
mundo em que há presença portuguesa.
"A minha Pátria é a Língua Portuguesa", disse Fernando Pessoa, tão
citado por elites
variadas. Passe-se à prática este princípio !
Pela minha parte, pela nossa parte, não nos calaremos, e desde já nos
propomos a ajudar
pessoas ou instituições, independentemente da sua orientação política
ou da sua
nacionalidade, para combater a agonia do Português em Olivença.
O Primeiro passo poderá ser um Congresso, ou umas Jornadas, ou uns
Encontros, sobre o
tema, que reúna a participação de especialistas e autoridades das mais
diferentes
origens, unidos pela sua boa vontade...

Estremoz, Junho de de 2008
Carlos Eduardo da Cruz Luna

Carlos Luna Estremoz, Portugal carlosluna@iol.pt // caedlu@gmail.com

10:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

UM ESTRONDOSO ÊXITO, A JORNADA DO PORTUGUÊS DE OLIVENÇA DO DIA 28 DE FEVEREIRO DE 2009
O dia amanheceu sem nuvens significativas. O Sol pareceu querer saudar o evento. E não
era para menos!
Neste dia 28 de Fevereiro de 2009, e pela primeira vez desde 1801, a Língua Portuguesa
manifestava-se livremente em Olivença. Mais do que isso, com a "cobertura" das
autoridades espanholas máximas a nível local e regional. E, talvez ainda (!) mais
importante do que tudo isso, graças à iniciativa, ao esforço, à coragem de uma associação
oliventina, a Além-Guadiana.
Não por acaso, jornais e televisões estavam representados. E talvez por acaso, pois
outra razão seria insustentável, não estavam órgãos de comunicação portugueses,
empenhados com outras realidades informativas. De facto, decorria o Congresso do Partido
do Governo em Lisboa.
A Jornada do Português Oliventino decorreu na Capela do vetusto Convento português de
São João de Deus. Num clima de alguma emoção. Estava-se a fazer História... e quase 200
pessoas foram testemunhas disso, entre as quais o arqueólogo Cláudio Torres, o "herói" do
mirandês Amadeu Ferreira, e... bem... fiquemos por aqui!
Falou primeiro o Presidente da Junta da Extremadura espanhola, Guillermo Fernández
Vara. Curiosamente, um oliventino. Foi comovente ouvi-lo confessar que, na sua casa
paterna, o Português era a língua dos afectos. Uma herança que ele ainda conserva, apesar
de já ser bem crescidinho... e Presidente duma região espanhola.
De certa forma, estava dado o mote. O Presidente da Câmara de Olivença, Manuel Cayado,
falou em seguida, realçando o amor pela língua portuguesa, e acentuando o papel de
Olivença como ponto de encontro entre as culturas de Portugal e Espanha.
Joaquín Fuentes Becerra, presidente da Associação, fez então uma breve intervenção, em
que se destacou a insistência no aspecto cultural da Jornada.
Juan Carrasco González, um conhecido catedrático, falou das localidades extremenhas,
quase todas fronteiriças, onde se fala português, com destaque para Olivença, e defendeu
que tal característica se deveria conservar.
Usou depois da palavra Eduardo Ruíz Viéytez, director do Instituto dos Direitos
Humanos e Consultor do Conselho da Europa, vindo de Navarra, embora nascido no País
Basco, que defendeu as línguas
minoritárias e explicitou a política do Conselho da Europa em relação às mesmas. Informou
a assistência sobre o ocorrido com o Português de Olivença. De facto, o Conselho da
Europa já havia pedido informações ao Estado Espanhol sobre este desde 2005, sem que
Madrid desse resposta. Em 2008, graças à Associação Além-Guadiana, fora possível conhecer
detalhes, com base nos quais o Conselho fizera recomendações críticas.
Seguiu-se Lígia Freire Borges, do Instituto Camões, que destacou o papel da Língua
Portuguesa no mundo, com assinalável ênfase e convicção. Tal discurso foi extremamente
importante, já que, tradicionalmente, em Olivença, se procurava (e ainda há quem procure)
menorizar o Português face ao "poderio planetário" do espanhol/castelhano.
Uma pequena mesa redonda antecedeu o Almoço. Foi a vez de ouvir a voz de alguns
oliventinos, em Português, bem alentejano no vocabulário e no sotaque, em intervenções
comoventes, em que não faltaram críticas e denúncias de situações de repressão
linguística não muito longe no tempo.
À tarde, falaram Domingo Frade Gaspar (pela fala galega, nascido na raia extremenha) e
José Gargallo Gil (de Valência, a leccionar em Barcelona), ambos
professores universitários, que continuaram a elogiar políticas de recuperação e
conservação de línguas minoritárias. O segundo fez mesmo o elogio da existência de
fronteiras e do de seu estatuto de lugar de encontro e de compreensão de culturas
diferentes, embora não como barreiras intransponíveis.
Seguiu-se Manuela Barros Ferreira, da Universidade de Lisboa, que relatou a
experiência significativa de recuperação, quase milagrosa, do Mirandês, a partir de uma
muito pequena comunidade de falantes, convencidos, afinal erradamente, de que aquela
língua tinha chegado ao
fim. O exemplo foi muito atentamente escutado pelos membros do Além-Guadiana.
Falou finalmente o Presidente da Câmara Municipal de Barrancos, a propósito dos
projectos de salvaguardar o dialecto barranquenho e de o levar à "oficialização".
Queixou-se do estado de abandono em que se sentia o povo de Barrancos face a Lisboa.
No final, foi projectado um curto filme sobre o Português oliventino, realizado por
Mila Gritos. Nele surgiam
oliventinos a contar a história de cada um, sempre em Português, explicando os
preconceitos que rodeavam ainda o uso da Língua de Camões e contando histórias
pitorescas. A finalizar o "documentário", uma turma de jovens alunos de uma escola numa
aula de Português
pretendia mostrar para a câmara os caminhos do futuro.
Deu por encerrada a sessão Manuel de Jesus Sanchez Fernandez, da Associação
Além-Guadiana, que ironizou um bocado com as características alentejanas do Português de
Olivença, comparando-o com o pseudo superior Português de Lisboa.
A noite já tinha caído quando, e não sem muitos cumprimentos e alegres trocas de
impressões finais, os assistentes e os promotores da Jornada abandonaram o local. Com a
convicção de que tinham assistido a algo notável.
Estremoz, 28 de Fevereiro de 2009
Carlos Eduardo da Cruz Luna
___________________
2) O ARTIGO DO HISTORIADOR DO P.C.P.

OLIVENÇA DEFENDE PORTUGUÊS
(grande fotografia do Convento de São João de Deus em Olivença, com carros e pessoas à
sua porta)
ANTÓNIO MARTINS QUARESMA/HISTORIADOR
Conforme o «Alentejo Popular» noticiou no último número, realizou-se no passado 28 de
Fevereiro, em Olivença, um encontro, que teve por tema central o português oliventino,
isto é, o português alentejano ainda falado naquela cidade pela franja mais idosa da
população.
A organização deste Encontro deve-se à recentemente fundada associação oliventina Além
Guadiana, que, estatutariamente, persegue a revitalização das raízes culturais
portuguesas, em particular da língua. Esta Associação, dirigida por jovens, representa em
Olivença uma nova maneira de encarar a cultura tradicional, valorizando-a e combatendo o
preconceito que normalmente atinge as formas de cultura popular.
O Encontro foi apoiado pelas instituições locais e regionais espanholas, como o
"Ayuntamiento" de Olivença e a Junta de Extremadura, que aliás estiveram presentes
através do Presidente da Junta, o também oliventino Guillermo Fernández Vara, e pelo
"Alcalde" de Olivença, Manuel Cayado Rodríguez.
Recorde-se que em Olivença, antiga vila portuguesa desde o século XIII, anexada à
Espanha no princípio do século XIX, o português se falou maioritariamente, até há bem
pouco tempo. Hoje em dia, é falado apenas por uma minoria, mas os vestígios materiais da
presença portuguesa são numerosos e muito visíveis. A influência portuguesa é sentida
também nos «pormenores». A doçaria, por exemplo, onde sobressai um saboroso doce, que dá
pelo peculiar nome de técula-mécula, é familiar ao nosso gosto alentejano.
Nesta jornada estiveram presentes alguns linguistas, portugueses e espanhóis, cujas
comunicações se revestiram de alto nível. Eduardo Ruíz Viéytez fez ressaltar a ideia de
que a defesa das línguas minoritárias, como o POrtuguês oliventino, é também uma questão
de Direitos Humanos e uma preocupação do Conselho da Europa. Juan Carrasco González
explicou as variedades linguísticas da fronteira. Lígia Freire Borges falou no papel do
Instituto Camões. José Gargallo Gil dissertou sobre fronteiras e enclaves na Península.
Manuela Barros Ferreira trouxe o MIrandês, a língua minortitária de trás-os-Montes.
Manuel Jesus Sánchez Fernández focou as dificuldades do Português oliventino. Servando
Rodríguez Franco mostrou exemplos de alterações toponímicas em Olivença, resultantes da
interpretação castelhana do POrtuguês. Domingo Frades Gaspar discorreu sobre a língua do
vale do Eljas. António Tereno, o único responsável político português presente, explicou,
por sua vez, as vicissitudes por que tem passado o processo de «classificação» do
«barranquenho».
Um momento especial foi a intervenção de José António Meia-Canada (querem apelido mais
alentejano?), natural de Olivença, que, na sua língua materna, deu genuíno testemunho do
Português oliventino.
Por fim, foi projectado um projectado um documentário sobre o Português de Olivença,
realizado a propósito. Após a projecção, com a noite já entrada, a Jornada terminou, no
meio de geral satisfação, pelo seu êxito e pela geral convicção de que se estão a
realizar acções profícuas no sentido da defesa do Português oliventino.
Uma palavra ainda sobre a Associação Além Guadiana. Ela tem o seu sítio na "net", onde
se podem encontrar notícias sobre as actividades que desenvolvem, para além de diversas
informações com interesse. Basta procurar no Google, ou ir directamente aos endereços
"http://wwwq.alemguadiana.com" e "http://alemguadiana.blogs.sapo.pt/". O Presidente da
Direcção é Joaquim Fuentes Becerra. Os restantes mebros são Raquel Sandes Antúnez,
conhecida de todos os que gostam de boa música e do grupo oliventino Acetre, Felipe
Fuentes Becerra, Fernando Píriz Almeida, Manuel Jesús Sanchez Fernández, Eduardo Naharro
Macías-Machado, Maria Rosa Álvarez Rebollo, José António González Carrillo, António
Cayado Rodríguez e Olga Gómez.
À laia de apelo, deixamos aqui uma nota final, dirigida especialmente às entidades
portuguesas responsáveis pela política cultural, para que, à semelhança do que fazem os
nossos amigos oliventinos, também em Portugal se preste atenção ao Português alentejano
de Olivença.

enviado por carlosluna@iol.pt

10:20 da tarde  

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