sexta-feira, setembro 19, 2008

Construção

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Chico Buarque

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ah a relaçao entre a musica e a arquitectura!

uma relaçao directa e mais audivel que o inicio da des-construção do zum zum-thor em lisboa!

ps: confesso que e uma das musicas mais belas que conheço. tenho a sorte de ter um vinil do homem desde que me conheço com essa musica ja tao gasta de rolar!

2:01 da manhã  
Blogger AM said...

mt obg, filipe
tb gosto muito da música e do disco
a sequência entre a primeira "deus lhe pague" e a quarta, precisamente a dita "construção" que retoma o tema da abertura, é uma coisa...
e depois, no lado B, o Gesubambino...
uma obra-prima obrigatória em qualquer discografia

7:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Fabulosa :):) mas para mim não há como nada como " a banda" ...

12:34 da tarde  
Blogger AM said...

não chega nem aos calcanhares :)

7:38 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home