sábado, março 22, 2008

Fachada Democrática

Caro Pedro Barata Castro

O teu artigo ("A função social da superfície na arquitectura contemporânea" - arq./a de Março) é mais sobre os chamados "espaços de transição" entre o interior e o exterior que sobre a "espessura" e a "tridimensionalização (!) do conceito" da (sempre super-fix...) "superfície".
Sobre os "espaços de transição" como espaços de "mediação" "social" nos espaços das sociedades (mais ou menos...) democráticas, podemos saltar o velho Gottfried e recuar (arcaria medieval a-fora...) até ao peristilo dos Gregos... (e mais além...)
Sobre a "superfície oblíqua da rampa" ("Goldman & Salatsch"!?...) "skipei" os franceses da moda e a-re-lembrei a planta do Corbu com a "rampa" e os dois "pulmões" para os arredores de Boston...
Sobre o tema (sobre a "problemática"...) da "arquitectura da democracia", da democrati-cidade (da "superfície") da fachada não podes deixar de "ler" (de considerar...) a obra do Venturi...
(Para a arquitectura de fachada democrática "folheia" o Kualhas ou a "ouvre" da a-Zaha-rada Hadid...)
A hipótese, que pareces "abraçar" com esperança e optimismo, de "equilibrar determinismo e liberdade" (uma arquitectura... "dois sistemas"...) à custa dos "avanços" nos "modernos" "sistemas electrónicos de vigilância" é particularmente detestável.









Na fotografia, a fachada "subversivamente real" do Ospedale degli Innocenti.

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2 Comments:

Blogger Pedro BC said...

Caro António:
Agradeco a tua leitura relativa ao artigo publicado na arq./a.
Escrevo também para responder a alguns dos temas que levantas:
1- Semper é uma referência importante não por ter inventado espaços de transição mas por sublinhar a sua função social, num contexto em que a separação industrialmente possivel entre estrutura e revestimento apontava facilmente para uma estetização bidimensional da fachada/ parede (tal como acontece em muitas das arquitecturas hoje, em relação às quais o artigo se procura distanciar)
2- As obras/ autores a que te referes como anteriores ou diferentes das que escolhi para o artigo fazem todo o sentido, mas não contradizem o que escrevo. Do que falo é de uma RECUPERAÇÃO da espessura como forma de ultrapassar uma relação entre edificio e individuo/ comunidade baseada num sentido único de representação/ imagem. Nunca pretendi afirmar que H&M, L&V ou outros fossem os inventores de algo salvador e nunca antes visto.
3- A imagem do Ospedale degli Innocenti que anexas ao post faz de facto sentido no contexto do tema que abordei. Sinto-o particularmente porque tive lá em inter-rail em 2001 e lembro-me bem de ter podido estar lá, nessas escadas, de graça e à sombra. É esse tipo de empatia possivel a que me refiro, e a sua definição a partir dos conceitos de superficie procura apenas sublinhar a importancia de cruzar corte com alçado, não de substituir um por outro ou de os fazer equivaler.
O que pretendia dizer é que falar de superficie sem considerar tridimensionalmente o espaço entre interior e exterior servirá talvez para discutir moda, mas não arquitectura.
4- Acho que Corbusier é um bom exemplo para este tema, mas talvez por razões diferentes das que apontas. A sua obcessão inicial por livrar a cidade de "cantos fechados fechados, perigosos e sujos" continha um certo sentido de denúncia que uma definição totalmente planar das paredes e superfícies ajudava a materializar.
Corbusier é duplamente um bom exemplo na medida em que, ao contruir obras em contextos urbanos (lembro-mo do Edificio de Apartamentos Clarté, de 1932), reintroduz progressivamente uma espesura entre interior e exterior que permita mediar e distanciar público e privado.
Quanto ao Carpenter Centre (julgo que é a esse que te referes) não me parece grande exemplo porque a rampa serve mais como elemento para distanciar do que aproximar em continuidade edificio e cidade, para além de um certo tom paternalista e unidireccional que também me parece ter (embora seja uma opinião talvez demasiadamente pessoal).
5- quanto ao teu sempre-citado Venturi, li-o mas deixei-o de fora do tema porque me parece que os seus "espaços sobrantes" (não sei se é bem este o termo que usa), embora próximos daquilo a que refiro, são normalmente pensados dentro do espaço privado.
6- Quanto ao possivel equilibrio entre determinismo e liberdade, mais uma vez, não defendo que haja um caminho único e salvador, apenas sugiro que, num contexto de enorme e controlo independente de limites físicos (através de câmaras, sensores, etc), se aproveite para abrir continuidades entre edificios e cidade, para (re) introduzir espaços híbridos. Enganem-nos, mas com qualidade, é mais ou menos isso que procurava dizer. Também dai a referência ao Estádio Olímpico, porque me parece exemplar dessa atitude: a sua imagem de marca corresponde a um espaço/ malha permeável construida num contexto do mais impermeável em termos de segurança que pode existir.

Um abraço,
Pedro

12:38 da tarde  
Blogger AM said...

Olá Pedro

Infelizmente não li o Semper no "original", mas já li sobre a sua influência na obra do "moderno" Otto Wagner e na do seu discípulo Plecnik.

(Obra de referência: A moderníssima Caixa Económica Postal de Viena com a fachada em painéis de mármore fixos com rebites de alumínio.)

Não sei se concordo quando afirmas que separar a "fachada" do "espaço" (do espaço interior e do espaço exterior) só serve para a (arquitectura da) moda e não para a arquitectura (propriamente dita...), afinal de contas a fachada de S. Spirito também em Florença e também do Brunelleshi, acaba por ser "irrelevante" para a "construção" do magnífico espaço interior da igreja... Acho que estamos habituados ("acomodados"...) a dar demasiada importância - "traumas" modernos... - à "continuidade" entre o interior e o exterior, e à "coerência" da obra como "um todo"...

Fui-me ao Corbu por causa das rampas, mas no contexto da leitura do teu artigo talvez tivesse feito melhor em referir a praça desnivelada (e em "rampa"...) do Centro Pompidou...
Falar do Corbu no contexto da "recuperação" da espessura das paredes dava para várias teses...

Quando (mais um vez...) fui buscar o Venturi estava a pensar nas questões muito particulares relacionadas com "the media facade" e "the issue of control" conforme abordadas na entrevista publicada no Venturi Scott Brown & Associates 1986-1998 do Stanislaus von Moos mas (e há sempre um mas...) para a questão mais abrangente dos "espaços de transição" não podemos deixar de considerar quase todo a obra do "Meistre" começando desde logo pelos (3) projectos para "a town in Ohio" publicados no C&C inspirados nas ruínas, nas "ruins wrapped around buildings", do Kahn.
Não me parece por isso muito correcto afirmar que esses espaços permanecem na "esfera" do espaço privado "resistindo" a outro tipo de "contaminações" (para utilizar umas expressões mais da moda...).
Por outro lado, uma das "coisas" pelas quais o Venturi é (ou deveria ser...) eternamente "adorado" tem a ver com a recuperação do "Nolli Map", "mapa" que eleva à máxima potência a "leitura" da inter-relação entre os espaços exteriores e os espaços interiores e entre os espaços públicos e os espaços "parcialmente" (o interior das igrejas, por ex.) públicos.

(A questão da "media facade" e do "issue control" abordam directamente a questão dos "conteúdos" "iconográficos" da "superfície" "digital" na arquitectura das sociedades democráticas.)

O Corbu não é propriamente um arquitecto em que pense quando penso no tema da arquitectura da (ou na...) democracia... mas eu também prefiro "os cantos fechados, seguros e limpos", às "galerias" a... despropósito e por dá cá aquela... avenida, que marcam as desoladoras... "artérias", das nossas cidades.

"Enganem-nos mas com qualidade"?
We won't get fool again...

Um abraço

(... e mais uma vez muito obrigado pelo "envio"...)

10:16 da tarde  

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