quinta-feira, fevereiro 14, 2008

As "Casas Binóculo"

Não sei se já repararam na praga de "Casas Binóculo" que atacou a arquitectura portuguesa?... A praga ou a moda das casas "caixas-de-fósforos" (pós Souto) com vistas privilegiadas (para paisagens privilegiadas...), "encaixilhadas" e (fetichizadas...) pelos (não menos fetichistas...) caixilhos deslizantes (nacionais ou - de preferência... - importados...) com assinatura... Podia puxar pela memória e linkar umas quantas, mas limito-me a "recuperar" os exemplos "maiores" da Casa no Romeirão dos ARX, da Casa no Gerês... e a recordar a "demolida" do Falcão de Campos...
As "Casas Binóculo" caracterizam-se por uma implantação perpendicular à inclinação "natural" do terreno de modo a obter um efeito de "elevação" ou de "levitação" à maneira (da arquitectura) "moderna"... ou um efeito de "alcandoramento" (vide "montes"...) à maneira "antiga" (pré-moderna...) da arquitectura com os pés bem assentes no chão...
Ao contrário dos "balanços" e das "suspensões" da Fallingwater, que pretendiam "integrar" a natureza na arquitectura (e vice-versa...) e - nas palavras do baixinho - "not just look at it", as "Casas Binóculo" portuguesas, não almejam a mais que à exibição do poder (também de "compra"...) dos seus proprietários e ao domínio ("patriarcal e falocêntrico"...) sobre a "vista" (e não sobre a "coisa"...), dir-se-ia, se a própria ideia da comparação não fosse absurda, à semelhança da Villa Rotunda...
A este despropósito (freudiano), não deixa de ser uma curiosa coincidência, que o "dono" da Casa do Gerês, seja um "gerente bancário"... aposentado...
Mas adiante...
O grande Paulo Mendes da Rocha em entrevista recente publicada no suplemento Imobiliário do Expresso, chamava a atenção para o absurdo de vender "bocados de paisagem (privilegiados...) como quem vende (ou compra... e come...) faisão"... mas isso é só porque o bem intencionado paulista não conhece as nossas "Casas Binóculo"... nem (muito mais grave...) as privilegiadas paisagens húmidas da nossa abençoada arquitectura PIN...

5 Comments:

Blogger João Amaro Correia said...

bingo 2

11:21 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

não é um questão de forma ou de estilo. penso que já comentei algo semelhante no arkitectos.

temos a maior conurbação da europa simplesmente devido a mau planeamento territorial e imbecilidade politica - disse mau, porque sei que existe(iu). isso sim é mau, se substituíssemos todas as casas socráticas e pós-socráticas por falling water's a coisa não melhoraria. é uma questão de gerir algo que é de todos (o território) e exigir qualidade de vida e acessibilidade (todos os sentidos possiveis do termo) em cidade. se a vida é feita na cidade, porque c@?@/#* se vai construir em cima de terra fértil para depois se meter dentro de um carro e conduzir meia hora para chegar ao trabalho?

quanto a PMR, que me lembre não se importou em construir a sua casa num lugar privilegiado de são paulo (um desses com paisagem), que por sinal fica na parte inundável do rio pinheiros. ela também afirma ainda que construir edificios unifamiliares é uma "babaquice", mas abre sempre uma excepção se algum amigo encomendar... sem confusão. eu gosto do velho, mas foram necessárias umas décadas para que decidisse morar em higienópolis, a um passo do escritório. ele desloca-se a pé ou de taxi. o tipo de acção que realmente ajuda em alguma coisa. pena que a maturidade demore a chegar aos clientes.

LR

p.s. da maneira que a coisa anda é bom continuar no anónimo... prisão por se manifestar é só o inicio. imagino o que aí não vem.

1:46 da tarde  
Blogger AM said...

caro LR

muito obrigado pela visita e pelo coment...

concordo que a substituição de casas sócretinas por casas "fallingwater" (infelizmente são pouco frequentes...) seria de pouco préstimo...
a prova-lo estão as vilas utopias e os emprendimentos de (bom) sucesso... a contribuir, aliás, para a "conurbação" (foi "chato" foi aquilo da OTA...)
não acho assim muito grave que exista alguma (pouca de) "contradição" entre aquilo que os arquitectos defendem ou projectam (para os outros...) e o seu "estilo de vida"
é sabido que o Mies vivia rodeado de móveis de "estilo"...
eu gramo à brava a casa do PMR!
pode ter essa relação com as paisagens privilegiadas, mas é o oposto do que pretendi descrever como "casas binóculo"
não é, não me parece, uma casa que "parasite" e que pretenda dominar, do modo que escrevi na posta, a paisagem (pelo contrário até tem uma palas "brise" que quase tapam as vistas...)
"explorar" a relação com a paisagem (seja ela qual for) é um dos maiores "capitais de qualquer projecto (algo de que os arquitectos NUNCA se deviam queixar - pois tudo são oprtunidades de projecto...)
perdi-me... acho que era mais ao menos isto...

a coisa está realmente feia... motivo porque acho ainda mais importante dar o nome ao manifesto

6:22 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

quando começamos a falar de planeamento (ou da falta dele) todas as questões de estilo passam para segundo plano; subsistem contudo dúvidas deste tipo: um PIN gera necessáriamente arquitectura PINdérica?
JFC
PS- o estilo 'binóculo' penso que foi lançado para o outono/inverno 2001; tem-se mantido mas com uma tendência para o mais apertado na cintura, li outro dia numa revista.

2:36 da manhã  
Blogger AM said...

eu diria, sem discordar, mas de outra maneira:
as questões de planeamento acompanham as questões de (falta de) estilo.
os PIN são em si mesmos PINdéricos, são filhos de uma visão PINdérica de políticos PINdéricos para turístas PINdéricos, o que de qualquer modo não quer dizer que não possa "gerar" (e gera) arquitectura com "estilo", ou seja, com qualidade (mais uma vez o Bom Sucesso...)
post... binóculo com cintura descaída :)

12:30 da tarde  

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