Aires Mateus
(...) Por um lado tínhamos a ruína, essa permanência, essa dilatação no tempo. Mas por outro tínhamos aquilo que é o objecto arquitectónico no interior, a pureza do desenho e a precisão do mundo. A arquitectura numérica, matemática e precisa. Havia, portanto, estas duas coisas: a ruína e objecto. Se os dois níveis de acabamento fossem díspares, seriam sempre dois objectos em confronto, que é um tema banal.
Como é que o pavimento de madeira se relaciona com esta ideia que descreveram?
A madeira tem a ver com o interior, mas o que nos interessou foi propor a madeira como material aglutinador. Não sabemos se foi a melhor opção, mas na altura foi a decisão que tomámos.
Durante bastante tempo perseguimos a ideia de utilizar um pavimento branco. Tínhamos até estudado a hipótese de uma cal de pó de pedra, branca. Mas de fosse branco não era ambíguo. Depois, pareceu-nos que aquele espaço, entre a ruína e a casa, era uma entidade em secção, por isso precisávamos de contrapor o chão e o céu para os fundir na espacialidade global. Se o pavimento fosse branco estaríamos a propor uma tradução demasiado directa.
JA 226
Seja pela insistente divulgação e (a-)critica aceitação da sua obra, seja pelo impacto universitário junto das novas fornadas de formandos, a prática dos arquitectos Aires Mateus representa a mais "perigosa" tendenza da actual arquitectura portuguesa.
O excerto da entrevista ao JA 226 acima reproduzido, tem a felicidade de sintetizar em poucas linhas, e a propósito da obra da moradia (entre todas as outras "exemplar") de Alenquer, a vacuidade e os equívocos que alimentam o "lugar comum" do discurso disciplinar, devidamente reconhecido entre os pares e nas academias de louros e letras...
É o primado do discurso "conceptual", "controlado e controlador" (que não fica bem "contrariar"...), absolutamente "auto-consciente" de todos os seus e-feitos e consequências. É o primado de uma arquitectura totalmente a-tectónica, mesmo quando embrulhada em rotundas afirmações sobre "o peso da gravidade" e servida por robustas maquetas, que reserva para a matéria e os materiais, o papel de peões de brega no xadrez do "jogo" conceptual. O pavimento exterior da dita moradia de Alenquer por exemplo, não é em madeira, em resposta e em "consequência" das múltiplas e (por vezes) contraditórias forças que conduzem a todas as decisões de todos os projectos, mas em resultado de uma idealização conceptual do próprio processo do projecto que lê no espaço "entre a ruína e a casa, (...) uma entidade em secção", contraposta ao chão e ao céu "para os fazer fundir na espacialidade global".
Como é obvio e resulta do pragmático exercício da profissão, os arquitectos Aires Mateus, estão, de todos estes factos, mais que conscientes. O "discurso", os desenhos artísticos, as maquetas fotografadas a B&W, não passam de instrumentais peças de um puzzle, necessárias à construção do "mito" e à construção do portfólio de candidatura ao "céu estrelado" do Starchitect, que permita aceder às encomendas de prestígio que... prestigiam.
Não é por acaso que a entrevista é acompanhada por um conjunto de fotografias de diferentes projectos, que tornam virtualmente impossível o conhecimento, e logo a "crítica" dos mesmos. A Luz "branca" das maquetas "flutua" (qual "flute" de champagne!) no "negativo" das fotografias (e no "positivo" da paginação). À excepção da fotografia da maqueta do conjunto de habitação para Moura, nunca é mostrado o "contexto" dos objectos, necessário (digo eu que sou "antiquado") à compreensão dos projectos.
E assim por diante...
... até quando?
Como é que o pavimento de madeira se relaciona com esta ideia que descreveram?
A madeira tem a ver com o interior, mas o que nos interessou foi propor a madeira como material aglutinador. Não sabemos se foi a melhor opção, mas na altura foi a decisão que tomámos.
Durante bastante tempo perseguimos a ideia de utilizar um pavimento branco. Tínhamos até estudado a hipótese de uma cal de pó de pedra, branca. Mas de fosse branco não era ambíguo. Depois, pareceu-nos que aquele espaço, entre a ruína e a casa, era uma entidade em secção, por isso precisávamos de contrapor o chão e o céu para os fundir na espacialidade global. Se o pavimento fosse branco estaríamos a propor uma tradução demasiado directa.
JA 226
Seja pela insistente divulgação e (a-)critica aceitação da sua obra, seja pelo impacto universitário junto das novas fornadas de formandos, a prática dos arquitectos Aires Mateus representa a mais "perigosa" tendenza da actual arquitectura portuguesa.
O excerto da entrevista ao JA 226 acima reproduzido, tem a felicidade de sintetizar em poucas linhas, e a propósito da obra da moradia (entre todas as outras "exemplar") de Alenquer, a vacuidade e os equívocos que alimentam o "lugar comum" do discurso disciplinar, devidamente reconhecido entre os pares e nas academias de louros e letras...
É o primado do discurso "conceptual", "controlado e controlador" (que não fica bem "contrariar"...), absolutamente "auto-consciente" de todos os seus e-feitos e consequências. É o primado de uma arquitectura totalmente a-tectónica, mesmo quando embrulhada em rotundas afirmações sobre "o peso da gravidade" e servida por robustas maquetas, que reserva para a matéria e os materiais, o papel de peões de brega no xadrez do "jogo" conceptual. O pavimento exterior da dita moradia de Alenquer por exemplo, não é em madeira, em resposta e em "consequência" das múltiplas e (por vezes) contraditórias forças que conduzem a todas as decisões de todos os projectos, mas em resultado de uma idealização conceptual do próprio processo do projecto que lê no espaço "entre a ruína e a casa, (...) uma entidade em secção", contraposta ao chão e ao céu "para os fazer fundir na espacialidade global".
Como é obvio e resulta do pragmático exercício da profissão, os arquitectos Aires Mateus, estão, de todos estes factos, mais que conscientes. O "discurso", os desenhos artísticos, as maquetas fotografadas a B&W, não passam de instrumentais peças de um puzzle, necessárias à construção do "mito" e à construção do portfólio de candidatura ao "céu estrelado" do Starchitect, que permita aceder às encomendas de prestígio que... prestigiam.
Não é por acaso que a entrevista é acompanhada por um conjunto de fotografias de diferentes projectos, que tornam virtualmente impossível o conhecimento, e logo a "crítica" dos mesmos. A Luz "branca" das maquetas "flutua" (qual "flute" de champagne!) no "negativo" das fotografias (e no "positivo" da paginação). À excepção da fotografia da maqueta do conjunto de habitação para Moura, nunca é mostrado o "contexto" dos objectos, necessário (digo eu que sou "antiquado") à compreensão dos projectos.
E assim por diante...
... até quando?
7 Comments:
Percebo essa tua irritação, mas olha que eles são bons, apesar de não ser muito a minha praia.
é pá... tenho pena, mas n ando com pedalada para os blogues. que porra. e logo agora que começam a acontecer coisas.
porra!
Pedalada!?
Infelizmente estes não são os únicos que pensam e agem de forma absolutamente irritante.
Em Portugal parece-me que existem 3 formas igualmente irritantes de arquitectar.
1- Ou somos engolidos pelo mercado do "fast-money" e entramos no sistema da empresa promotora construtora, que pretende uma imagem arquitectónica de pseudo-modernidade, de bioclimatismos e pseudo-tecnologias de ponta (onde a aspiração central e o comando da garagem são o "must" tecnológico).
2-ou então uma imagem igualmente bacoca mas diametralmente oposta que é designada, pelos próprios, como "estilo antigo". Suposta imagem de casa portuguesa, pequeno burguesa, com beirados e heras trepadeiras.Claro que aqui com a caixilharia em alumínio a imitar a imagem das de madeira, e a "mini-piscina de canto".
3-já numa atitude de negação das anteriores permissas existem as "primas donnas" da arquitectura, que numa acepção igualmente imagética, epidérmica e desventrada entendem-na como coisa abstracta, sem escala, lugar, e habitantes. São eles os artistas das plásticas espaciais e sobre eles, gurus da contemporaneidade, existe toda uma corte de vassalos e aias. Não vão os "meninos artistas" sentir-se abandonados na sua "dura" luta contra as pato-bravices da concorrência.
obg aos três
Precisamente marta... a minha questão, o "ponto" desta posta sobre a entrevista dos Aires Mateus ao JA 226, tem também a ver com essa tentativa de "equiparar" esta "maneira" (esta mania) profissional dos "artistas", com as outras manias "tecnocráticas" (1) e "pimbas" (2).
A única diferença, é que enquanto os artistas (e pseudo-artistas) dominam os média da especialidade (e não só... ver por exemplo o suplemento imobiliário do Expresso), todo e qualquer aspecto positivo que os "tecnocratas" e os "pimbas" possam ter (sim, sim... por exemplo, um certo "realismo" na resposta às necessidades do "mercado"...) estão completamente ausentes e arredadas de qualquer possibilidade de "aparição", a não ser como "inspiração" (e respiração) irónica para "exercícios" ditos "híbridos", ou como "bobos" (que não da corte, porque para isso vão servindo, e até muito bem, os "artistas"...) em diletantes reportagens fotográficas da Geração "Alfa-Betos"! :)
Chega a ser uma coisa "fascista", ou esquizofrénica, esta (falsa) ideia de que não são (também) os arquitectos quem projecta certas coisas...
Preferimos imaginar moinhos de vento... e combater o 73/73 rumo aos "amanhãs que cantam" no glorioso país dos arquitectos... finalmente (quando acabar...) planeado e (que g(r)anda t(r)eta...) Orden(h)ado!
"disclaimer" :) eu gosto de algumas coisas dos Aires Mateus, e até gostava muito do seu trabalho, ai por volta de 1989...
Uma coisa é muito certa... a "máquina" do "mito" vai bem oleada!
... mas o pior de tudo é a aliança tipo Povo-MFA dos Aires Mateus com o Valsassina... eu entro com o prestígio académico e intelectual, tu entras com as "infra-estruturas"... e como cantavam os outros: "lets make lots of money"!
I've got the look!!!
ah pois é
Acho inteligente a abordagem que eles fazem dos projectos... arriscam muito...
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