A Favorita (Charlotte... às vezes)
Têm-me perguntado muitas vezes (mentira) qual é a minha casa favorita do século XX. Pois bem, a minha casa favorita, não é uma casa... ou melhor, é uma casa, mas não é uma vivenda. É um apartamento desenhado pelo arquitecto Hans Scharoun, em Charlottenburg-Norte, mais propriamente (e se querem mesmo saber...) o apartamento mais à esquerda no desenho da “planta do topo sul das fileiras situadas a sul do Heilmannring”, publicado na pág. 64 (edição em língua portuguesa) do pequeno livro da Taschen. (Não vale a pena procurarem na Arquitectura e Vida...)
A urbanização, um notável exemplo de desenho urbano moderno do pós-guerra para a reconstrução da cidade de Berlim, propõe habitação colectiva em “bandas” com desenho em “Z”, dispostas “perpendicularmente” à via com maior volume de trânsito automóvel. Estas bandas estruturam um conjunto de espaços públicos “côncavos”, com “ilhas” de estacionamento e acesso aos blocos de habitação, e de espaços públicos “convexos”, ajardinados, destinado (e para utilizar a “linguagem” da época...) ao “lazer”, num esquema alternado de grande simplicidade, mas, igualmente, de grande riqueza formal, e para a qual também contribui a variação no número de pisos ao longo de cada “banda”.
A casa é composta por um átrio de entrada com espaço de arrumos em “roupeiro” (?), um pequeno corredor de acesso à cozinha, instalações sanitárias e quartos, uma cozinha com duas bancadas paralelas com uma área de refeições junto à janela, uma instalação sanitária equipada com banheira e lavatório, e uma (outra) instalação sanitária equipada com sanita e lavatório; uma sala de estar “equipada” com uma bancada”escritório”, um quarto duplo, e, finalmente, uma generosa antecâmara “quarto de brincar”, através da qual se acede a duas “alcovas” com camas individuais, separadas (igualitariamente, e ao “meio”) por dois roupeiros... iguais. A área da antecâmara é aproximada à área da cozinha e do espaço de refeições.
O “segredo” do desenho parece estar na colocação da cozinha no centro da casa, “entre” a sala e a dita “antecâmara” e nas duas portas de correr que permitem o acesso à “zona” de refeições a partir de qualquer um destes espaços. A funcionalidade e as possibilidades de utilização deste esquema aparentemente simples são quase infinitas. Armazenar “coisas” na entrada... “descarregar” as compras na cozinha... dar um saltinho à “casinha” que estou aflitinho... chegar, voltar, ao quarto... ir à casa de banho, ou à cozinha, a meio da noite... passar pela cozinha, e “apanhar” o que faltava levar para a mesa, depois de lavar as mãos na casa de banho como eu (te) mandei... sair do quarto para tomar o pequeno-almoço (ou levar o pequeno almoço ao quarto...) e sair da sala para o jantar... chegar à mesa de refeições: o ponto de encontro e reunião de toda a família, de todos os habitantes... brincar às escondidas ou à apanhada... correr à volta da cozinha... you name it, “tender pervert”!
Uma das coisas que mais me encantam no desenho da casa é precisamente a ambiguidade, com que (quase) todos os espaços (à excepção do quarto duplo, mas mesmo assim...) são simultaneamente passíveis de serem apropriados individual e/ou colectivamente... mas o melhor é voltar a linkar o Alvar Aalto.
No essencial, a tipologia do dito apartamento, parece “replicar” o desenho da planta da casa Mattern de 1932-1934, desenvolvendo e ampliando as dimensões e as funções da cozinha, contemplando um quarto duplo, de “casal” mais convencional e/ou tradicional, propondo uma “ligação directa” evidente, entre a entrada e a sala, integrando o “escritório” na sala e integrando o espaço de refeições na cozinha.
Termino com o desenho para um apartamento T2, feito na FAUT em 1992 (?), inspirado por alguns dos muitos bons apartamentos que se projectaram e construíram no Bairro dos Olivais em Lisboa.
Semelhanças... curiosidade... ora, ora... pois. Porque será?
A urbanização, um notável exemplo de desenho urbano moderno do pós-guerra para a reconstrução da cidade de Berlim, propõe habitação colectiva em “bandas” com desenho em “Z”, dispostas “perpendicularmente” à via com maior volume de trânsito automóvel. Estas bandas estruturam um conjunto de espaços públicos “côncavos”, com “ilhas” de estacionamento e acesso aos blocos de habitação, e de espaços públicos “convexos”, ajardinados, destinado (e para utilizar a “linguagem” da época...) ao “lazer”, num esquema alternado de grande simplicidade, mas, igualmente, de grande riqueza formal, e para a qual também contribui a variação no número de pisos ao longo de cada “banda”.
A casa é composta por um átrio de entrada com espaço de arrumos em “roupeiro” (?), um pequeno corredor de acesso à cozinha, instalações sanitárias e quartos, uma cozinha com duas bancadas paralelas com uma área de refeições junto à janela, uma instalação sanitária equipada com banheira e lavatório, e uma (outra) instalação sanitária equipada com sanita e lavatório; uma sala de estar “equipada” com uma bancada”escritório”, um quarto duplo, e, finalmente, uma generosa antecâmara “quarto de brincar”, através da qual se acede a duas “alcovas” com camas individuais, separadas (igualitariamente, e ao “meio”) por dois roupeiros... iguais. A área da antecâmara é aproximada à área da cozinha e do espaço de refeições.
O “segredo” do desenho parece estar na colocação da cozinha no centro da casa, “entre” a sala e a dita “antecâmara” e nas duas portas de correr que permitem o acesso à “zona” de refeições a partir de qualquer um destes espaços. A funcionalidade e as possibilidades de utilização deste esquema aparentemente simples são quase infinitas. Armazenar “coisas” na entrada... “descarregar” as compras na cozinha... dar um saltinho à “casinha” que estou aflitinho... chegar, voltar, ao quarto... ir à casa de banho, ou à cozinha, a meio da noite... passar pela cozinha, e “apanhar” o que faltava levar para a mesa, depois de lavar as mãos na casa de banho como eu (te) mandei... sair do quarto para tomar o pequeno-almoço (ou levar o pequeno almoço ao quarto...) e sair da sala para o jantar... chegar à mesa de refeições: o ponto de encontro e reunião de toda a família, de todos os habitantes... brincar às escondidas ou à apanhada... correr à volta da cozinha... you name it, “tender pervert”!
Uma das coisas que mais me encantam no desenho da casa é precisamente a ambiguidade, com que (quase) todos os espaços (à excepção do quarto duplo, mas mesmo assim...) são simultaneamente passíveis de serem apropriados individual e/ou colectivamente... mas o melhor é voltar a linkar o Alvar Aalto.
No essencial, a tipologia do dito apartamento, parece “replicar” o desenho da planta da casa Mattern de 1932-1934, desenvolvendo e ampliando as dimensões e as funções da cozinha, contemplando um quarto duplo, de “casal” mais convencional e/ou tradicional, propondo uma “ligação directa” evidente, entre a entrada e a sala, integrando o “escritório” na sala e integrando o espaço de refeições na cozinha.
Termino com o desenho para um apartamento T2, feito na FAUT em 1992 (?), inspirado por alguns dos muitos bons apartamentos que se projectaram e construíram no Bairro dos Olivais em Lisboa.
Semelhanças... curiosidade... ora, ora... pois. Porque será?
2 Comments:
Meu caro AM,
Vê lá se tens dó de quem não tem tempo nenhum para nada e publicas o desenho desse dito apartamento.
É o mínimo que podes fazer pelo SNA que postás-te lá para trás - explica-me a relação comigo que eu não percebi!!!
Olá pcs
O apartamento segue por mail
(o trabalho que tu me dás...) :)
Na posta SNA, o que é que não percebeste?
O José Mateus em entrevista à actual do Expresso, fez uma comparação entre a "normalidade" da "consulta" ao arquitecto, e a normalidade da consulta ao médico de família... e eu alembrei-me logo todo da tua revolucionária proposta para um SNA, nos moldes do SNS. :)
E do meu apartamento dos tempos da FAUTL, alguma recordação?
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