terça-feira, fevereiro 28, 2006

Bonjour Tristesse

Uma posta de Carnaval para o Gonçalo:

"Se se quer construir um espaço aberto, então esse espaço tem de ser muito radical na sua estruturação, porque senão nem sequer será uma base de estímulo para a intervenção seja de quem for."

Ávaro Siza, Arquitectura Portuguesa, 5ª Série, N.º 11, 1987

Vou lendo por aí, que "não é possível" a crítica (de arquitectura), já não apenas nos blogues, mas onde quer que seja, que o meio (arquitectónico) é "escorregadio"... Apetece-me citar, e escrever como o outro, "não é possível adiar a crítica para outro século"!
Na última posta do Gonçalo, abordam-se, a propósito das relações entre os arquitectos e "outros" artistas, tantos "temas" que (me) é difícil saber o que dizer, embora tenha a certeza de que o quero dizer.
Não sabia que as residências "azuis" eram "suas". Reparei nelas (ficam à beira da estrada) numas das últimas visitas ou passagens por Coimbra, já nem sei a que despropósito. (Ah!, já sei, motivos particulares). Não gostei nada. Pensei: mas que raio...! que desagradável que deve de ser estar para ali em cima pendurado naqueles brutalistas paralelepípedos azuis tão violentos para uma paisagem (ainda) semi-rural. E tenho ideia (embora não "ateime") que também vi, e com desconforto senti, a proximidade do cemitério.
Pelas fotos mantenho a mesma ideia, embora vá enriquecendo a leitura que faço do(s) edifício(s)com as memórias da "La Tourette" do Corbu e da "Gallaratese" do Rossi, para as quais creio que remete.
De qualquer modo o "ponto" da posta é outro. Sobre as relações de que já falei, entre "os" artistas. A "intervenção plástica" POP, nas residências Azuis parece-me (provocadoramente) muito bem conseguida, mas o mesmo não penso dos "grafitis" nas residências Laranjas, que já conhecia das fotografias do "últimas reportagens", também publicadas pela "Anuário # 08".
O novo "grafiti" anónimo, embora um pouco demente (seria curioso saber o que têm de "ingénuo" ou de "engenho"...) perturba e... agrada. Mas não sei até que ponto deverá (o pai da criança) envolver-se na sua "preservação", (adopção?). O seu valor, se lhe atribuímos algum, não será em primeiro lugar, a própria acção do acto subversivo de... vandalismo!
(Nunca cheguei a perceber completamente a história do Bonjour Tristesse, no edifício do Siza em Berlim, mas aquilo têm que ter mãozinha... Na civilizada Alemanha, por certo que o edifício já foi pintado, mais do que uma vez...)
Se alguém lá quiser enviar uma "brigada" anti-grafiti, ou uns pintores "armados" com rolos do AKI, paciência, pode ser que o venha a seguir seja ainda melhor.
Eu que não sou "arquitecto- pai-galinha" aprendi, a manter uma "certa" e digamos - "generosa" - distância às obras.
Manter o "domínio" (a propriedade?), sobre as mesmas, para além do que saudavelmente diz respeito à defesa do que foi projectado e construído, poderá, precisamente nas obras que reclamam essa "abertura" (de que Siza fala na epígrafe), alimentar alguns equívocos sobre o "estímulo para a intervenção" (que é também estímulo à participação dos cidadãos em "projectos democráticos").
Sobre a Centraal Beheer, do Herman Hertzberger, escreveu (em "Essays in Architectural Criticism, Modern Architecture and Historical Changes") Alan Colquhoun: "The gray and large-pored surfaces of the building demand, and get, a good deal of large, and brightly colored bric-a-brac and indoor plants - although the extent to which these are the spontaneous acts of the employees or gifts from a sensitive and tasteful management is not altogether clear".
A questão é: será que queremos transformar "actos espontâneos" em "oferendas de uma administração sensível e com bom gosto", mesmo quando esse "bom gosto" da "aposição" seja "consagrado" pelo arquitecto?

3 Comments:

Blogger Gonçalo Afonso Dias said...

(...) Neste texto resumem-se algumas leituras e reflexões sobre o fenómeno do graffiti. Recusando a categorização redutora de actividade marginal ou de vandalismo, mas evitando igualmente qualquer tentação apologética, tento de um modo muito sucinto fazer um desenho do graffiti (e do graffiter) em vol d'oiseau tendo como pretexto a apresentação destas reflexões no painel ``Novos Media, Novas Linguagens''. No final do texto incluo um glossário com algumas das expressões mais recorrentes na novilíngua dos graffiters (...).

Nota: resumo introdutório de um texto de Jorge Bacelar "Notas sobre a mais velha arte do mundo" (Universidade da beira interior) sobre o fenómeno dos graffitis.

Texto completo disponível em: http://bocc.ubi.pt/pag/bacelar-jorge-notas-mais-velha-arte-mundo.html

9:20 da tarde  
Blogger AM said...

obrigado gonçalo
um abraço

11:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

pá, um texto que se vê fortemente influenciado pela escrita do manuel mendes... parentese atrás de parêntese e uma diarreia de aspas... chateia

4:11 da manhã  

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