sexta-feira, janeiro 27, 2006

Estilo (You Give Style a Bad Name)

Para o tpnm:
O "estilo" não contêm em si mesmo, nada de "negativo". Definir/caracterizar um "estilo", representa uma das maiores conquistas de um artista (individualmente considerado) ou de um colectivo de artistas.
O "estilo" é em última instância, a única unidade de medida para a análise crítica do "triunfo" ou do "fracasso", da produção intelectual e artística de qualquer criador.
O "mau-nome" da noção de "estilo" deriva dos impasses criativos, associados à vulgarização do conceito (estilo disto, estilo daquilo, etc.) ou da sua "reprodução" (imitação/cópia) por personagens "menores" ou "secundários".
Adolf Loos, por exemplo definiu um "estilo", a que terá aportado como resultado de uma reflexão sobre a arquitectura (e a vida) do seu tempo. Que esse estilo seja ainda hoje uma das "fonte" para exercícios criativos (Siza Vieira) diz bem da importância do seu trabalho, e da concomitância entre o seu e o nosso (afinal um só) tempo. "Crise da Cultura", chamou-lhe Frampton...
Gehry, para avançar no tempo, definiu um "estilo". Não é um defeito, é um mérito. Goste-se ou não. Representa anos de esforçado trabalho, de experimentações e de sínteses. Repare agora na vulgaridade de um projecto em "estilo" Gehry, divulgado aqui.
Não me interessa a arquitectura, porque toda em "estilo combinatório do seu estilo", de personagens aparentemente tão distantes entre si, como Mario Botta ou Zaha Hadid. Não me interessa a "superficialidade" dos seus "estilos" das suas "sínteses" tão "evidentes" e sem "valor acrescentado" por assim dizer. Cheira-me a oportunismo "estilístico"...
Por outro lado, fascina-me, que um autor com um estilo reconhecível, de novo Siza Vieira, mantenha uma produção sem sinais de esgotamento criativo. Não é por ter um "estilo" que uma obra recente de Siza Vieira, poderá ser criticamente menorizada, por comparação com algumas das suas "obras de juventude". A "Casa de Chã", por muito "boa" que seja, e é, é apenas mais um passo, rumo à riqueza de "estilo" que hoje reconhecemos, e onde se podem observar as lições de muitos dos grandes mestres, por contraditórias que possam ter sido as suas teorias e as suas praticas.
Não gostarias de "soar" pedante, ou professoral (afinal, isto é apenas um blog: "odesproposito") mas pareceu-me importante tentar esclarecer esta questão.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ob pela explicação!!!
Não quis deixar de consultar o dicionário:
‘estilo s. m. maneira especial ou carectrística de dizer, escrever, compor, pintar, esculpir, etc.; costume; pragmática; ponteiro com que se escrevia antigamente (Do lat. Stilu- «ponteiro com que se escrevia em tábuas enceradas»)
estilização s. f. acto ou efeito de estilizar; processo de ornamentar, aproveitando motivos de fauna e de flora (De estilizar + -ção)
linguagem s. f. conjunto de sons em cuja produção intervém a língua; qualquer sistema ou conjunto de sinais, fonéticos ou visuais, que servem para a expressão do pensar e do sentir; maneira de falar; dialecto; estilo; a voz dos animais; o que as coisas significam (…)’
…e fiquei um bocado surpreendido quando me deparei com o estilo na linguagem…parecia-me claro que numa linguagem (elemento estruturante e organizador mais complexo) se pudessem encontrar vários estilos (decorativos, ornamentais). Para mim a única coisa que sempre me fez confusão foi o termo ‘estilo’ na arquitectura…talvez esteja errado, talvez seja mais uma questão de léxico.
Loos com o seu livro ‘Ornamento e Delito’ quis pronunciar-se contra um 'estilo' (ornamental) decorrente na sua época, criando dessa forma uma outra tendência, ou se preferires um estilo!!!, mas acho que na realidade o que lhe interessava eram discutir-se conceitos espaciais como o Raumplan e não as questões de decorativismo de fachadas…
Ou seja estilos há muitos – não o questiono - mas que numa discussão sobre fazer-se cidade dever-se-ia abordar um conjunto de factores ou conceitos espaciais e qq coisa geo-blabla-estratégico, e não fundamentos estilisticos (pelo menos numa base de trabalho).
Afinal não deixo de concordar contigo, todos temos raízes de estilos e somos conscientes disso - Siza ou Bota são exemplos disso - ainda que essas raízes cada vez mais detenham uma ordem à escala global, e por isso conduzirem a uma clivagem quanto aos diferentes estilos regionalistas…, só assim se poderá obter um resultado pragmático como o da Zaha Hadid, para citar os teus exemplos e conjugar-se esse léxico e gramática arquitectónica no seu esplendor…isto é, ninguém pode ou consegue ser a-estílico, não te parece?

10:37 da tarde  
Blogger AM said...

sim, penso que sim. ninguém "escapa" ao estilo, mas só têm um estilo, quem têm estilo (talento) para ter um... (estilo) :)
em última análise, penso que o que eu quis sugerir com a minha posta "Style and the city" foi: que penso ser mais operativo ("numa base de trabalho") partir do local para o global, do particular para o universal, da casa para a cidade, do "estilo" para a cidade... do que o seu inverso.
pensar o "estilo", e não projectar "como" exercício de estilo, só nos aproximará dos temas da "cidade"
muitas vezes, o tal "discurso" sobre a cidade, parece-me um emaranhado novelo de linhas... sem ponta por onde se lhe pegue!, que se limita a excluir da "discussão" qualquer diabo que não domine o "jargão"

11:19 da tarde  

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