segunda-feira, novembro 01, 2010

chovem expertos # 1

O que sucedeu não pode ser justificado apenas pela precipitação. Estive a ver os dados do INM relativos às estações meteorológicas de Lisboa e a quantidade de precipitação que caiu, hora a hora, foi elevada durante alguns momentos, mas tratou-se de uma situação típica de Outono. Os responsáveis pelo nosso planeamento urbano esquecem-se que em Lisboa chove mais num ano que em Londres. A diferença é que a nossa capital tem 4 meses secos, ao passo que na capital do Reino Unido a precipitação distribui-se de forma mais ou menos constante ao longo de todo o ano. Lisboa tem uma precipitação média anual que ronda os 720 mm (período 1971-2000), Londres conta com cerca de 590 mm por ano (período 1971-2000). O nosso clima caracteriza-se pela existência de uma estação seca, que está praticamente ausente no Alto Minho, mas no litoral algarvio dura 5 meses, e de um período muito húmido: Outubro a Maio no Porto, Outubro a Fevereiro em Faro. Contudo, esse dito período húmido, dada a nossa latitude e posição geográfica, caracteriza-se pela ocorrência períodos muito chuvosos, com poucos dias de duração, que podem alternar com dias, semanas ou mesmo meses (em anos muito secos) sem precipitação: este padrão é bem mais evidente na região Sul. No planeamento urbano, no planeamento agrícola ou na gestão dos recursos hídricos há que ter em conta que Portugal não é um país tão seco e solarengo quanto se apregoa: este é mais um dos chavões que grassa na populaça ignorante e em muitas elites que se julgam iluminadas. Na cidade do Porto, a precipitação média anual é duas vezes superior à que se verifica em Paris, e em Évora ou Beja chove tanto ou mais num ano do que em vastas regiões da Europa Central. O Minho recebe tanta ou mais precipitação que a Irlanda, e as montanhas da Peneda ou do Gerês são mesmo uma das regiões mais húmidas da Europa. Perante este quadro, é lamentável constatar que, um pouco por todo o país, se betonizam injustificadamente cursos de água, arrasam-se galerias ripícolas, constrói-se em leito de cheia, via incêndios e más práticas agrícolas e florestais promove-se a erosão dos solos das nossas serranias, impermeabilizam-se solos enquanto vastas áreas urbanas permanecem abandonadas, e a clamar por uma requalificação que nunca ocorre, não se promove a poupança de água em anos mais húmidos e não se adequam as culturas às nossas realidades edafo-climáticas.

Mas as vozes do alvoroço blogoesférico já lançaram os seus mil e um pregões sobre o que sucedeu. Aposto que 99% dessa gente nunca leu uma linha de Orlando Ribeiro, mas estão em crer que sabem alguma coisa sobre a geografia do nosso território.

Esse é um dos males do nosso (escasso e paroquial) debate público, está viciado por uma série de chavões sem qualquer sustentação racional, que se instalam como dogmas sagrados que ninguém questiona. Nisto das questões do clima ou dos solos, debita-se que somos um país com óptimas condições para turismo de sol e praia, que somos um país onde quase não chove ou que temos solos pobres para a agricultura, entre tantos outros. Depois, pelo meio, anda o Arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles, ou o Professor Jorge Paiva, a tentar corrigir a corja dos iluminados que cuidam ter estofo para falar sobre tudo, tarefa árdua e sem sucesso.

(Link)

eu... eu ainda sou do tempo (recordar é viver...) em que na estação de televisão o Arq. Ribeiro Teles defendeu a troca da "mãe-de-água" do Alqueva por uma "maternidade" de barragens por esse Alentejo a fora... mas então... o "turismo" de "sol & charco" ( e "caça"... não esquecer - nunca! - a "caça"...) do Alentejo...

3 Comments:

Blogger alma said...

ah ah ah
bizarro um sujeito com tantos predicados intitular-se como ...

excelentes comentários :)

12:39 da tarde  
Blogger AM said...

é a blogo :) não há que estranhar :)

11:15 da tarde  
Blogger alma said...

:)))) e a nossa é muito especial LOL

11:45 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home