sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Debalte

É muito positivo trazer o debate para o público em geral e para os jornais. E nós, arquitectos, devemos ter o cuidado de não permitir debates na praça pública com base na ideia de que o projecto é feio ou bonito. Há que abrir o debate nos locais certos e nos momentos certos fazendo um esforço de comunicação.

Ricardo Bak Gordon, Arquitectura 21 (que, confirma-se, é mesmo muito fraquinha...)

Descodificando... O "debate" é generosamente "permitido" na condição de ser rigorosamente controlado no espaço no tempo e nos modos, pelos "piritos" dos costumes.
A "questão estética", a "intuição sensível" (e intelectual...), um "ponto-de-vista" menos "disciplinar" (e disciplinado...) de um leigo (ou mesmo - heresia... - de um colega mais... desalinhado...) é território (chutar para canto...) minado...
O "debate" quer-se do mai rigoroso e a arquitectura - como a autobiografia... - "cientifica"...
Contradicções (não há argumentos...)

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Em retribuição da dedicação canina que odespropósito oferece à causa do "debate," partilho aqui uma Carta ao Director da A21 - que, na verdade, esteve na origem do meu post Vive la crise!...

Caro José Romano,

Nas últimas semanas a minha perspectiva face à crise tem vindo a mudar, porventura em direcção a um optimismo paradoxal, alguns diriam mesmo um optimismo perigoso e radical.
A crise, a nossa crise e a crise dos outros, é como um filtro que subitamente voltou a funcionar numa piscina que, por estar há demasiado tempo sobreusada e maltratada, acumulava folhas caídas, lodo, verdete, impurezas variadas e até manchas de gordura provenientes de corpos bronzeados e bem lubrificados.
Acabada a festa na piscina, lá se anunciava no New York Times que "it was fun till the money ran out".
E entretanto, com as canas a cair e o destino dos ventos a mudar, a roleta chinesa acabou por determinar que o fogo-de-artífício que anunciou a queda da starchitecture calhasse em sorte a Rem Koolhaas e ao seu complexo CCTV, acabadinho de estrear em Beijing.
De repente, no meio do turbilhão, dos investimentos suspensos e dos clientes que se suicidam (lá fora, que por cá a pobreza endémica não dá para tanto), eis que o meio arquitectónico, lá como cá, começa a exibir os primeiros sinais de consciência de que algo tinha que mudar (e sim, sem dúvida, para que tudo um dia fique outra vez na mesma - mas a isso chama-se natureza humana).
Foi por entre estes e outros pensamentos, que tive a agradável surpresa de descobrir o primeiro número da Arquitectura 21 nas bancas.
Não que não tivesse já ouvido falar de uns projectos e remodelações editoriais, mas seguramente fui apanhado de surpresa pela mudança de tónica registada.
Depois de as revistas portuguesas de arquitectura terem julgado que sobreviveriam ao mercado na crista da espuma das imagens, saúda-se que, finalmente, o "debate" se tenha tornado fashionable.
Parece finalmente aceitar-se a evidência de que as imagens da arquitectura portuguesa não alimentam convenientemente a voragem mediática que caracteriza o mercado das revistas ou, já agora, qualquer outro mercado. As imagens da arquitectura portuguesa, no fundo e bem vistas as coisas, são aquilo que sempre quiseram ser: pobres. E, afinal, a arquitectura chã, o minimalismo de trazer por casa e a produção de mais-do-mesmo-que-não nos ensinaram-a-fazer-outra-coisa acabam por se revelar pouco adequados para dar nas vistas.
Parece então finalmente aceitar-se que as imagens não são suficientes, sejam elas de que celebridade forem, e que os arquitectos da "prática" precisam de ler e perceber um pouco melhor quais os modelos que emulam e porquê.
Assim, por entre os fantasmas do papão da crítica que o Ricardo Bek Gordon ainda insiste em ver nas esquinas, conclui-se, também acertadamente, que será o debate de ideias que, por entre a crise, poderá agarrar os leitores que entretanto perderam o Norte.
A adopção do debate já tinha timidamente surgido noutros meios, já tinha sido proposta para o JA e apenas se pode esperar que agora corra de feição nas páginas desta nova publicação.
Impõem-se porém alguns modestos avisos à navegação por parte de quem, armado em Quixote ou em Pancho, já se habituou a clamar por debate em frente aos moinhos de vento: em Portugal, a crítica e a opinião pagam-se, pelo menos desde os tempos do Eça e do Aquilino, e não é certamente em numerário.
Tal qual na anedota da amante e da prostituta, não é o pronto-pagamento aquele que mais onera.
Numa época em que, como agora se diz, todos temos que partilhar (as despesas, não as ditas cujas!) não custará nada oferecer a opinião a bem da colectividade.
O que vai custar a pagar - àqueles que se atreverem a ter opinião e voz crítica - é antes aquilo que já esquecemos por uma falta de prática que o "respeitinho" impôs com sucesso em todas as frentes da vida portuguesa: as quezílias, as inimizades, as juras de ódio, as más-vontades. as más-línguas, as invejas e as diatribes personalizadas.
Ou será que a crise vai também servir de filtro a esse modo de ser tão português?
Assim, por entre a voragem enérgica da crise, ao novo projecto editorial não posso senão desejar bons augúrios.

2:03 da tarde  
Blogger AM said...

mt obg pela partilha e confiança :)
ora aqui está um belo naco de prosa :) e um belo "osso" :) duro de roer... :) (e remoer) :)
quanto à revista (tinha que ser muito revista...) e a julgar apenas (e precipitadamente) pelo primeiro número, tenho as maiores das reservas e das dúvidas...
uma revista de arquitectura que (diz que) quer ser a "porta-voz" da novas gerações (dos descamisados...) não será o veículo ideal para tão difícil e espinhosa... "missão"
uma revista que (a despropósito da citação do RBG) afirma querer o "debate" não pode querer ficar na paz dos anjos com deus (BIG...) e o diabo (a vulgaridade do enésimo projecto "correcto" dos herdeiros da "escola do porto" naquela coisa enjoadinha do gigante...)
querem o "debate", assumam a ruptura editorial com o paranormal panorama das revistas maria vai com as outras (todas), assumam a "tendência" de um qualquer ponto de vista sobre a "disciplina"
criticar, em editorial, o star-sistema do "mais dos sempre os mesmos" e atacar, logo de seguida, com a publicidade de (outro...) projecto do souto (sem interesse de maior...) é que não é coisa nenhuma!
and so on and so on... que aquilo é uma mina de "contradicções"
e sim (lamento muito...), mas a "crise" (só para alguns, é ler no blogue do tempo das cerejas...) vai mais uma vez servir para "revelar" tudo o que de pior nos caracteriza, a nós portugueses, como povo e como arquitectos:
uma raça de pigmeus cobardes
valha-nos ainda e sempre o siza...

(nota: eu gostei da entrevista, do "discurso", do RBG. a "contradicção" da passagem citada na posta acho uma grande confusão... "cicatrizes" que ficaram do "affair" do largo do rato, parece-me...)

2:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Am,
já vi e li a A21 e fiquei completamente baralhada :))))

8:04 da tarde  
Blogger AM said...

isso :)

8:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Grande Ricardo Bek Gordon, adoro mesmo tudo o que faz e considero ter tido a sorte de ter sido aluno dele.

Tenho pena de por vezes assistir de que o discurso pode nem sempre "conseguir" acompanhar a prática.

Mas como outro grande professor que tive dizia, um teórico não terá de ser necessáriamente um grande arquitecto, mas um bom arquitecto terá forçosamente que ter uma boa base teórica.

10:12 da tarde  

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