Linda de Deus
Fui visitar a minha velha tia solteira, que está a morrer, sozinha, num lar.
Foi do campo para a cidade quando era pequenina, como naquele "filme português" da Maria Papoila, servir, como criada, para a casa de um qualquer Doutor, intimo do outro Doutor - o maior deles todos.
Contava como ia a pé com uma alcofa à cabeça, do Campo das Cebolas para os modernos e recentes bairros do Areeiro, para poupar o dinheiro do bilhete do eléctrico e como se divertiu pela capital, nos bailes de Carnaval do Coliseu... e pouco mais, que a vida do pobre não é folia.
Viveu comigo, na casa dos meus pais, durante muito tempo.
Está reformada por invalidez, com uma daquelas "pensões de miséria", como repete - e com inteira razão - a "cassete".
A sua morte será um alivio para o estado (para o défice do monstro cavaquista), para o lar (que a poderá "substituir" por "reforma" mais lucrativa) e para a família das muitas sobrinhas e sobrinhas-netas que com muito amor e carinho ajudou a criar (e que agora não a visitam...).
Chama-se Deolinda, o que (curioso como nunca tinha pensado nisso...) quer(erá?) dizer Linda de Deus.
Para ela, que nunca pensou - nem pensa - em morrer, uma velha Veronica cheia de vida.
Foi do campo para a cidade quando era pequenina, como naquele "filme português" da Maria Papoila, servir, como criada, para a casa de um qualquer Doutor, intimo do outro Doutor - o maior deles todos.
Contava como ia a pé com uma alcofa à cabeça, do Campo das Cebolas para os modernos e recentes bairros do Areeiro, para poupar o dinheiro do bilhete do eléctrico e como se divertiu pela capital, nos bailes de Carnaval do Coliseu... e pouco mais, que a vida do pobre não é folia.
Viveu comigo, na casa dos meus pais, durante muito tempo.
Está reformada por invalidez, com uma daquelas "pensões de miséria", como repete - e com inteira razão - a "cassete".
A sua morte será um alivio para o estado (para o défice do monstro cavaquista), para o lar (que a poderá "substituir" por "reforma" mais lucrativa) e para a família das muitas sobrinhas e sobrinhas-netas que com muito amor e carinho ajudou a criar (e que agora não a visitam...).
Chama-se Deolinda, o que (curioso como nunca tinha pensado nisso...) quer(erá?) dizer Linda de Deus.
Para ela, que nunca pensou - nem pensa - em morrer, uma velha Veronica cheia de vida.
2 Comments:
É assim ...mas mudará, "pois tudo se compõe de mudança". E assim pensam os arquitectos. Alguns. Quero acreditar. Ou deveriam. Gostei. Já por aqui tenho passado. Volto já.
obrigado p.bdea
pela visitas e pelo comentário
Enviar um comentário
<< Home