terça-feira, julho 04, 2006

As Intermitências da Revolução

Que espaço existe hoje na arte para a figura do revolucionário?

Pouco Espaço. O cinema e a literatura têm grande dificuldade em se confrontar com o tipo humano do revolucionário de profissão. Vêem nele sobretudo o esquematismo e a fé, não o resultado de um percurso humano, preferem interpreta-lo como o símbolo de uma limitação e de uma auto mutilação infantil. É a atitude de vingança que um certo tipo de intelectual sempre assumiu contra o homem de acção saído das classes populares. É a inclinação para a nuance, que declara a sua aversão à cor (com nos célebres versos de Verlaine) e recusa confrontar-se com o elemento trágico e já não romântico, próprio da experiência revolucionária quando é vivida de um modo não episódico. Diria que "Bom Dia, Noite" reflecte perfeitamente esta tendência. A dimensão inquieta da síntese, feita de esperanças e de desencantos, de
dúvidas acalentadas e de decisões forçadas que o militante revolucionário tem de produzir à sua custa para ajustar o efeito da sua acção escapou totalmente a Bellocchio.

... de uma entrevista publicada no Expresso de 2 de Outubro de 2004, a alguém, cujo nome, estupidamente, não registei.