terça-feira, fevereiro 07, 2006

"E não se pode pinta-la?"

Ex.mo Sr. Director do EdG

No numero de dezembro do jornal que vossa excelência edita e dirige, foi publicado na coluna de opinião “Blocos de Notas” do Sr. (...) um artigo com o titulo “E não se pode pinta-la?”, em parte relacionado com a Escola Pré-Primária de ÁD.
Afirma o Sr. (...), que a Escola Pré-Primária destoa do “tom bucólico da paisagem” com “casinhas brancas de barra azul” da “bonita” aldeia, irrompendo como um “inesperado paralelepípedo" (analisar segundo Freud), "pintado das cores mais imprevistas" (o que se supõe mau), "combinando-se de forma berrante" (como calar a cor, e acabar com as combinações?)”, “filho adoptivo" (eu teria preferido filho bastardo) das “torres das Amoreiras" (das de Lisboa, claro); e como um “apêndice” (de maus fígados) “transporto” ou “perdido” (em que ficamos?) na “planície alentejana”. Termina, não sem antes referir as “excelentes condições” de funcionamento da escola, com a pergunta que fez titulo.
A opinião não “destoa” da paisagem dos bonitos comentários azuis, produzidos na mini-polemica velha de mais de um ano (com direito a entrevista na R.C.G., e tudo!), pelo que original só mesmo o momento que o Sr. (...) escolheu para a expressar. Enfim, talvez só agora por lá tenha passado, ou talvez tenha estado a matutar na matéria.
Concentra-se na critica ao “inesperado” e à diferença (que assalta “o desprevenido viajante”), tudo coisas perigosas (inclusive para a segurança rodoviária), como se sabe!
Que a “planície alentejana” aguente (como diria o Arq. Tomás Taveira) este regabofe cromático, oferecendo-se em sacrifício à transparência da luz e à inclemência do sol, aos campos lavrados, ao (não muito distante) escuro perfil da serra, ou à subida da maré que vêm com as meninas da ribeira do Sado; ou que a arquitectura contemporânea construída por estas bandas, possa incorporar outras cores, oriundas da bacia mediterrânea e recebidas em herança, eis o que custa a imaginar!
Refiram-se a este propósito as investigações oitocentistas de Henri Labrouste sobre a cor na arquitectura clássica, as experiências modernas de Le Corbusier em Pessac, a sensibilidade (para a cor) de Luis Barragan, ou alguma da arquitectura popular estranha à codificação estética da burguesia.
E é tanta a estranheza, que nem se repara nas casas de ÁD pintadas das mais diversas cores, na semelhança com a “rectangularidade” dos tradicionais (e vizinhos) montes alentejanos, mais do que com as pitorescas e volumetricamente articuladas vivendas derramadas (mas brancas e de barra azul); ou se perde tempo a reflectir sobre as razões para a escolha de cada uma das cores (e eu também não digo!).
Pois é. Pensar dá trabalho. Melhor é repetir a paisagem dos nossos lugares-comuns.
E quanto à pergunta? Não fica sem resposta! Pode sempre agarrar-se a um pincel...

Com os melhores cumprimentos

8 Comments:

Blogger João Amaro Correia said...

vamos pintar a cabeça desse director de pasquim?

5:19 da tarde  
Blogger AM said...

nada de violência... fisica, entendido! :)

5:33 da tarde  
Blogger AquiQ said...

Ora cá está um exemplo, a um tempo irónico e esclarecedor, da liberdade de expressão a cair em cima de um dos nossos, e da nossa imediata reacção.

12:19 da manhã  
Blogger AM said...

caro aquiq
creio que está a baralhar alhos com bugalhos
1 eu reconheço o direito a este ou qualquer outro autor de criticar no meu trabalho aquilo que lhe apeteça
2 reconheço igualmente o direito ao director do jornal de publicar os artigos que muito bem enteder
3 reclamo o direito de contra-argumentar (contra-criticando) a critica que me foi dirigida, utilizando para isso um meio (pessoal) de que disponho
4 ao contrário da comparação que insinua com outros e mais graves casos de (falta) de liberdade de expressão, eu não ameacei ninguém, não incendiei a sede do jornal, não queimei bandeiras do concelho, nem exijo pedidos de desculpas... está a perceber a diferença!
5 a reacção não foi imediata (o caso relatado já têm algum tempo, e só por despropósito, o recuperei)

1:53 da manhã  
Blogger AquiQ said...

a despropósito, o meu comentário era dirigido ao jmac...


...e tal como não penso que ele realmente quisesse pintar a cabeça do pobre senhor, tão pouco eu me permito uma comparação séria com assuntos mais graves...

...uma válvula depois do outro comentário mais sério, lá em cima...

...não estamos aqui para ofender ninguém... ;-)

8:24 da tarde  
Blogger AquiQ said...

«reclamo o direito de contra-argumentar (contra-criticando) a critica que me foi dirigida»

Se me permites uma crítica à tua crítica. A minha crítica, conceptual, é que deverias ter contra-argumentado, argumentando e não, como explicas, contra-criticando.

Percebo os teus argumentos e até concordo com eles. No entanto, se a falta de cultura e de vontade de pensar são comuns, a verdade é que pensar a arquitectura não é comum até entre arquitectos!

Os argumentos, como disse, estão lá mas pondo-me no lugar do Sr. Pedro Ferreira, ria-me e dizia para a mulher, Olha, irritei o arquitecto. Se explicados os argumentos, com sorte e eterno optimismo, esperaria que o Sr. Pedro Ferreira lê-se com atenção, e dissesse com os seus botões, Olha, nã tinha pensado nisso.

nota: assumo pelo começo do post que enviaste a carta ao jornal.

8:48 da tarde  
Blogger AM said...

é uma grande história...

8:52 da tarde  
Blogger AquiQ said...

as reticências levaram-me a pensar que ias continuar...




... é pena.

5:21 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home